Introdução
A espasticidade é caracterizada pelo aumento do tônus muscular em padrões de
movimento, é um estado de fixação exagerada causada pela hipertonia e
co-contração excessiva que permite a criança ficar de pé de uma maneira anormal,
a inibição recíproca estará atuando como inervação recíproca ,portanto os
reflexos fásicos da medula estão alterados. Os reflexos tônicos responsáveis
pela manutenção desta postura anormal contra a gravidade são o resultado de um
estado filogenéticamente mais antigo de controle postural, pode ser considerada
a primeira tentativa da natureza de controle postural contra a gravidade.
A criança espástica possui hipersensibilidade aos estímulos sensoriais, clônus,
reflexos tendíneos profundos hiperativos devido a hiperexcitabilidade do reflexo
de estiramento, postura ou movimento anormal dos membros, dificuldade de
coordenação motora, fraqueza muscular, e presença de reflexos cutaneo-musculares
patológicos, como sinal de Babinski.
Podem também apresentar sinergias anormais de movimento podendo estar presente
reações associadas e padrões extensores ou flexores de movimento ao esforço,
isso poderá levar ao mal equilíbrio, e inicio mais lento do movimento em
comparação com a criança não espástica. A estabilidade postural estará
diminuída, que levará a redução da força, do equilíbrio e habilidade nas tarefas
diárias. Pode ocorrer o desenvolvimento de contraturas e deformidades na coluna
vertebral e nos membros prejudicando ainda mais sua mobilidade e marcha.
Ao exame físico os membros espásticos demonstram aumento de resistência ao
estiramento passivo, que é maior no inicio, diminuindo com a continuidade do
movimento, a resistência ao movimento passivo aumenta com o aumento da amplitude
e a velocidade imposta, classicamente a espásticidade está presente em flexores
no membro superior e extensores do membro inferior.
Hidroterapia
A água é utilizada como meio curativo des dos tempos mais remotos, os romanos já
utilizavam se de banhos quentes e frios com a finalidade tanto recreacionais
como curativas, Galeno(médico) também instruia sobre seu uso. Em 1697, o médico
inglês Jonh Floyer publicou uma pesquisa sobre o uso correto e o abuso dos
banhos. Após a primeira guerra mundial com a publicação dos primeiros trabalhos
sobre o uso da água no tratamento de doenças reumáticas e do aparelho locomotor
o método começou a ser aceito como parte do programa de reabilitação em muitos
centros do mundo e devido há vários resultados satisfatórios a hidroterapia pôde
se firmar no panorama mundial da saúde.
O termo hidroterapia significa toda a aplicação externa de água com finalidade
terapêutica. Este tipo de fisioterapia de reabilitação subaquática ocupa-se de
exercícios e movimentos determinados pela necessidade especifica de cada
indivíduo.
A água serve além de condutora de frio ou calor neste processo, mais também são
utilizados suas propriedades, efeitos físicos e fisiológicos para o tratamento.
Os processos hidroterápicos são preparatórios, complementares ou adjuntos aos
exercícios terapêuticos e atuam tanto na superfície do corpo quanto em todo
organismo. Não somente o fluxo sanguíneo e o equilíbrio de calor são afetados,
mas também o metabolismo, a composição sanguínea, a secreção de várias
glândulas, a psique, os sistemas nervoso, músculoesquelético, cardiorespiratório,
renal e outros. Ainda oferece ao corpo a experiência de atuar em duas forças
principais: gravidade para baixo e flutuação ou impulso para cima.
O principal objetivo do trabalho de hidroterapia é de proporcionara maior
independência possível para a realização de suas tarefas diárias.
A temperatura da água depende da situação a ser tratada. E como o objetivo é
tratar a espásticidade será mais adequada uma temperatura mais elevada de 36.7 á
37.8ºC. O calor mantido durante toda a terapia também diminui a sensibilidade da
fibra nervosa rápida(tato) e a exposição prolongada diminui a sensibilidade da
fibra nervosa lenta(dor).
O sangue aquecido relaxa a musculatura pela transferência de calor por condução
somando ao efeito da diminuição da dor proporciona alívio ao espasmo muscular,
melhora a circulação local e tende a reduzir a tonicidade dos ligamentos,
tendões e musculatura vascular. Quando as articulações são mobilizadas, a
amplitude de movimento aumenta mais facilmente, indicando mais vantagens para a
sua utilização como meio terapêutico.
Observou-se irritabilidade, cansaço e relatos de sono por mais de 3 horas após
terapia para recuperação de pacientes submetidos a tratamentos em temperaturas
acima de 35ºC por mais de 20 minutos, e temperaturas abaixo de 32ºC podem
provocar tensão em pacientes neurológicos.
O efeito da resistência aos movimentos da água acaba produzindo um tipo de
movimento semelhante ao isocinético do corpo humano e imprime uma velocidade
quase constante ao movimento, com a vantagem de lesionar menos a musculatura e
as articulações envolvidas.
Os efeitos fisiológicos são semelhantes aos produzidos por qualquer outra forma
de calor, porém são menos localizados. São os resultados normais do exercício
executado e variam de acordo com a temperatura da água, a pressão da água,
duração do tratamento e a intensidade dos exercícios.
O calor relativamente brando produz o efeito fisiológico sobre o sistema nervoso
de reduzir a sensibilidade das terminações nervosas sensitivas e, à medida que
os músculos são aquecidos pelo sangue que atravessa, seu tônus diminui levando
ao relaxamento muscular.
No sistema músculo esquelético o calor da água aquecida reduz o espasmo muscular
e as dores, promove aos músculos e articulações um aquecimento contínuo durante
todo o tempo de tratamento e os músculos fadigam-se menos rapidamente, ainda se
tem outras vantagens: ocorre o trabalho equilibrado dos mesmos, pois se trabalha
a resistência e a força muscular; performance global trabalho de agonistas e
antagonistas igualmente; ocorre o auxílio no alongamento; aumento ou manutenção
da amplitude de movimento.
Efeitos Terapêuticos
No sistema motor a imersão em água aquecida tem efeitos positivos na dor ,
edema, espasmo muscular, articulações e marcha, já que a imersão diminui o
edema, relaxa músculos e articulações, exige mínimo de esforço para pequenas
contrações e/ou movimentos articulares, além de auxílio na marcha por não
precisar de aparelhos ortopédicos, outros efeitos, diminuição da ação da
musculatura antigravitácional, redução do tônus pela diminuição das aferências
fusais, facilitação da ação da musculatura fraca e dos músculos que não vencem a
gravidade, reeducação dos músculos paralisados, manutenção ou aumento dos arcos
de movimento direta ou indiretamente, facilicitação do ortostatismo na marcha,
facilicitação do manuseio do paciente em várias posições, melhora da
flexibilidade, trabalho da coordenação motora global, da agilidade e do ritmo.
No sistema sensorial estimula o equilíbrio, a noção de esquema corporal, a
propriocepção e a noção espacial, já que a água é um meio instável, levando a
constante desequilíbrio e estímulos cutâneos. Facilita as reações de
endireitamento e equilíbrio, pois não existe ponto de apoio e o paciente é
obrigado a promover alterações posturais. É a ação da flutuação e da
turbulência. Diminuição dos estímulos proprioceptivos à medida que aumenta a
profundidade, reduz-se a carga de peso.
Previne as deformidades, atrofias e piora do quadro do paciente, diminui os
impactos e descarga de peso sobre as articulações.
Um dos grandes valores da hidroterapia é o psicológico. Mesmo o menor dos
movimentos voluntários (não possíveis fora da água) ajuda o paciente a reter a
“imagem corporal” do movimento. Reforçando o moral do paciente(pois não
necessita dos aparelhos ortopédicos) e a facilidade dos movimentos,
proporcionando confiança para alcançar máxima independência funcional. Outras
vantagens atividade realizada em ambiente relaxante, proporciona bem estar
físico e moral, descontração alívio da tensão e estresse, prazer, estimula
autoconfiança, promove melhor conhecimento do corpo e suas limitações e a
aprendizagem de novas habilidades.
Os movimentos passivos devem ser efetuados lentamente e ritmicamente, começando
com o tronco e articulações proximais, gradualmente incluindo as articulações
distais. Os movimentos a principio devem a principio ser de natureza oscilatória
e a seguir rotatórios. O tronco e os membros devem ser movidos em padões de
movimento com inibição reflexa. O paciente de respirar profundamente e
calmamente, e o momento do estendimento máximo deve coincidir com a expiração. A
principal dificuldade consiste em obter uma fixação estável para ambos o
paciente e o terapeuta.
Conclusão
A hidroterapia em piscina aquecida ajuda a aliviar a espasticidade, mesmo que o
alivio seja apenas temporário. Porem a medida que a espasticidade diminui,
movimentos passivos podem ser administrados em maior amplitude e com menor
desconforto para o paciente. Deste modo a amplitude de movimento pode ser
mantida ou aumentada.
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