A terapia interferencial
é um aspecto da eletroterapia amplamente utilizado, mas ainda pouco
compreendido.
Podemos descrever a terapia como a aplicação transcutânea de correntes
elétricas alternadas de média freqüência, com sua amplitude modulada a
baixa freqüência, para finalidades terapêuticas.
E também é uma forma de estimulação nervosa elétrica transcutânea e é
considerada como um meio de aplicação de uma corrente de baixa
freqüência, dentro da chamada faixa terapêutica.
As correntes de média freqüência, associadas a uma resistência
relativamente baixa da pele, sejam mais confortáveis que as correntes de
baixa freqüência; assim utilizando uma média freqüência, é possível uma
penetração mais tolerável da corrente através da pele.
MODULAÇÃO DA AMPLITUDE
A modulação da amplitude é uma expressão utilizada na descrição da
transmissão de um sinal contendo informação, mediante a variação da
amplitude de uma onda transportadora. Ao variar a amplitude da onda de
freqüência mais elevada a intervalos regulares, é criada a menor
freqüência.
Na terapia interferencial, o processo da modulação da amplitude é
concretizada mediante a mescla de duas correntes de média freqüência
fora de fase (defasada).
As correntes individuais interferem uma com a outra ao se encontrarem, e
compõem uma nova forma de onda. Em decorrência da interferência das
ondas, as amplitudes das correntes se somam algebricamente.
Portanto, no seu nível mais simplificado, a corrente interferencial pode
ser considerada como consistindo de uma corrente de freqüência média que
tem sua amplitude modulada a baixa freqüência.
DISTRIBUIÇÃO DA CORRENTE
O método tradicional de aplicação da terapia interferencial lança mão de
quatro eletrodos, para atender a dois circuitos. Os circuitos são
dispostos perpendicularmente entre si, de modo a fazer intersecção na
área a ser estimulada. De-Domenico descreveu como a corrente de
amplitude modulada está contida principalmente num padrão em forma de
flor, entre os grupos de eletrodos.
Treffene concluiu que um campo interferencial se estabelecia em todas as
áreas do meio – inclusive nos eletrodos – e não exclusivamente no
interior da área originalmente descrita. Todas as teorias atuais
baseiam-se num meio homogêneo.
FREQUÊNCIA DE MODULAÇÃO DA AMPLITUDE (FMA)
Os estimuladores interferenciais usam duas correntes de média
freqüência, uma na freqüência fixa de 4000 Hz, e outra ajustável, entre
4000 e 4250Hz. A inclusão da freqüência ajustável permite a seleção de
uma faixa de baixas freqüências moduladas pela amplitude – a corrente de
média freqüência irá mudar concomitantemente.
MODULAÇAO DA FREQUÊNCIA/FREQUÊNCIA DE VARREDURA
A freqüência de modulação da amplitude pode, ela própria, ser modulada
pela freqüência. Podemos fazer com que FMA alterne ao longo de uma faixa
estabelecida pela manipulação do controle de freqüência de varredura.
Os aparelhos interferenciais variam quanto à freqüência de varredura
disponível ao terapeuta.
INTENSIDADE
A intensidade da corrente pode ser ajustada no aparelho. À media que a
intensidade aumenta, o paciente sentirá uma sensação de formigamento.
Com uma intensidade maior, ocorrerá uma contração muscular. Se a
corrente for aplicada a uma intensidade suficientemente elevada, o
paciente poderá sentir desconforto, ou dor.
Embora seja impossível “receitar” as intensidades que irão produzir
efeitos terapêuticos nos indivíduos, pesquisas efetuadas em indivíduos
normais sugeriram que é provável que os efeitos sensitivos originem-se
entre 4 e 10 mA, e as respostas motoras entre 8 e 15 mA (Martin e
Palmer, 1995a). contudo, estes valores provavelmente irão variar para a
área do corpo sob tratamento, e para cada indivíduo tratado. Além disto,
é impossível a identificação de valores terapêuticos “ideais”, pois eles
podem variar segundo a resposta do paciente e a filosofia do terapeuta.
VETOR ROTACIONAL
Um dispositivo de vetor rotacional é montado em alguns aparelhos, com o
objetivo de variar as potências das correntes, relativamente entre si.
Com isto, o padrão de interferência irá girar, assegurando que uma ampla
área poderá ser coberta pela corrente interferencial. Assim, o
tratamento não fica restringido em sua distribuição apenas às regiões
previamente descritas.
ELETRODOS
A corrente pode ser aplicada através de eletrodos flexíveis fixados por
fita adesiva ou ligados à pele, ou por eletrodos a vácuo constituem um
modo útil de aplicação da corrente interferencial a áreas relativamente
inacessíveis aos eletrodos flexíveis.
A terapia interferencial é comumente aplicada por meio de quatro
eletrodos; contudo, é também possível o uso de dois eletrodos. A
modulação da amplitude ocorre no interior do equipamento, antes da
aplicação aos tecidos.
INDICAÇÃO PARA USO
Alívio da dor, promoção da cicatrização, reparo nos tecidos e a produção
de contrações musculares.
DOR
As declarações acerca do alívio da dor têm suas origens partilhadas com
o uso de TENS. Alguns autores afirmam que os componentes de baixa
freqüência da corrente interferencial, isto é, as freqüências pulsantes,
provocam estimulação nervosa. O que a freqüência pulsante pode fazer é
influenciar a velocidade de disparo do nervo.
Recapitulando, a corrente interferencial consiste basicamente de uma
corrente de média freqüência, de aproximadamente 4000 Hz.
De-Domenico (1982) alegou que a corrente interferencial poderia aliviar
a dor mediante a produção de um bloqueio periférico da atividade nas
fibras nervosas portadoras de impulsos nocivos.
Este propalado mecanismo depende ainda de confirmação para a corrente
interferencial, por meio de evidências apropriadas.
A despeito da popularidade da terapia interferencial na prática clínica,
e da propalada eficácia clínica, é escassa a evidência publicada do
efeito de alívio da dor causado por esta modalidade.
REPARO DOS TECIDOS
Devido ao componente de baixa freqüência (em decorrência da modulação da
amplitude), afirma-se que a corrente interferencial, com relação ao
processo de reparo, oferece benefícios terapêuticos similares aos
obtidos pela estimulação elétrica de baixa freqüência.
ESTIMULAÇÃO MUSCULAR
A corrente interferencial também tem sido utilizada como técnica de
estimulação muscular (DeDomenico, 1986). Embora, a corrente
interferencial seja freqüentemente citada como sendo mais confortável
que as outras formas de onda para a estimulação muscular, um estudo
realizado sugeriu que uma onda quadrada bifásica e simétrica era mais
confortável que a corrente interferencial ou uma forma de onda em pico,
pareada e monofásica.
ORIENTAÇÕES TERAPÊUTICAS
Um problema na terapia interferencial, comum a todas as formas de
eletroterapia, é a determinação das regulagens de controle apropriadas a
ser utilizada nos equipamentos.
ALÍVIO DA DOR
Desde uma perspectiva fisiológica, é logicamente mais justificável citar
a freqüência média (aproximadamente 4000 Hz) como sendo da maior
importância. Contudo, foi sugerido a freqüência pulsante como fator com
influência no conforto do paciente. Pode ser promovido o melhor uso do
tratamento, com a seleção da freqüência pulsante mais confortável para o
paciente. As freqüências pulsantes mais elevadas (>50 Hz) são
consideradas como sendo as mais confortáveis.
O aumento da intensidade a intervalos regulares é provavelmente o meio
mais efetivo de impedir a adaptação ao estímulo.
A escolha de quatro eletrodos, ou dois eletrodos é também um tópico
ainda em debate. Em termos práticos, provavelmente é mais fácil usar
dois eletrodos, embora este seja um tópico que depende da preferência
pessoal.
CICATRIZAÇÃO / REPARO
Afirma-se que as correntes interferenciais exercem efeitos sobre a
cicatrização. A ativação de fibras AB pode ser utilizada na modulação da
atividade do sistema nervoso autônomo, com a possibilidade de
influenciar o processo de cicatrização/reparo (aplicam as recomendações
concernentes à estimulação do nervo para o alívio da dor).
Afirma-se também que a corrente interferencial tem um efeito direto
sobre as células. Neste caso, a freqüência pulsante pode ter validade na
produção dos efeitos específicos das baixas freqüências.
É difícil fornecer orientações proveitosas para a seleção da intensidade
e da FMA para a obtenção de efeitos celulares diretos, em decorrência da
carência de pesquisa de base.
ESTIMULAÇÃO MUSCULAR
Para a reeducação do músculo, parece ser apropriado o uso das regulagens
mais confortáveis para o paciente.
CONCLUSÃO
Com base nas evidências disponíveis, pode-se argumentar que a terapia
circunferencial é um proveitoso modo de estimulação das fibras AB para
obter o alívio da dor, e também um meio de estimulação muscular a níveis
relativamente confortáveis. Contudo, o equipamento é caro e volumoso, e
não foi demonstrado ser melhor que modalidades mais baratas e menos
complicadas, como a TENS ou os estimuladores musculares portáteis.
Assim, atualmente a terapia interferencial deve ser considerada como
supérflua. Com relação à sua eficácia em termos da promoção da
cicatrização/reparo dos tecidos, a pesquisa ainda se encontra muito
defasada com relação às outras modalidades (p.ex.,ultra-som). Se
pesquisas futuras trouxerem evidências em apoio à modalidade, então a
terapia interferencial poderá servir como um instrumento terapêutico
extremamente versátil, capaz de estimular nervos e promover efeitos
celulares até níveis teciduais relativamente profundos.
BIBLIOGRAFIA
Eletroterapia de Clayton – 10ª edição
Autor: Sheila Kitchen e Sarah Bazir
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