Referência em FISIOTERAPIA na Internet |
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Trabalho realizado por: - Sheila Gemelli de Oliveira* E-mail: sgol@upf.br - Lia Mara Wibelinger** - Raquel Del Luca*** |
*Fisioterapeuta, Professora do curso de Fisioterapia da Universidade de
Passo Fundo - UPF/RS, Mestre em Gerontologia Biomédica, |
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TRAUMATISMO
CRANIOENCEFÁLICO: |
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RESUMO
Palavras chaves:
traumatismo cranioencefálico (TCE),
fisioterapia e prevenção.
ABSTRACT
Traumatic brain
injury constitutes principal cause of deaths and sequels in multitrauma
patients. The main causes are: automobile accidents (50%), falls (21%),
assaults and aggressions (12%), sports and recreation (10%). In
Key-words:
traumatic
brain injury (TBI), physiotherapy e prevention. INTRODUÇÃO
O traumatismo cranioencefálico
(TCE) é uma agressão ao cérebro, não de natureza degenerativa ou congênita, mas
causada por uma força física externa, que pode produzir um estado diminuído ou
alterado de consciência, que resulta em comprometimento das habilidades
cognitivas ou do funcionamento físico. Pode também resultar no distúrbio do
funcionamento comportamental ou emocional. Este pode ser temporário ou
permanente e provocar comprometimento funcional parcial ou total, ou mau
ajustamento psicológico 9.
O TCE pode ser provocado por acidente de trânsito (60
a 70%), quedas (20%) e outras causas mais raras como agressões e projétil de
arma de fogo 5.
Os pacientes vítimas de TCE são a quarta principal
causa de mortalidade nos EUA nos últimos 40 anos, enquanto que entre as pessoas
de 1 a 45 anos se encontram em primeiro lugar. A mortalidade dos pacientes
vítimas de TCE está em torno de 40% e não está limitada somente aos países
desenvolvidos, sendo o TCE bastante presente em todo mundo. Infelizmente, mais
da metade das mortes por TCE ocorre no local do trauma, sem tempo hábil para
reanimação 5.
O presente estudo de revisão bibliográfica tem como
objetivo um maior conhecimento sobre o tema. Para isso, serão abordados os
seguintes tópicos: conceito, incidência fisiopatologia, tipos, quadro clínico,
classificação, complicações, seqüelas, diagnóstico e tratamentos. Quanto aos
tipos de tratamentos, será destacado a importância da fisioterapia em
proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes com TCE descrevendo as
técnicas mais utilizadas para tal propósito. CONCEITO
O TCE constitui qualquer agressão
que acarrete lesão anatômica ou comprometimento funcional do couro cabeludo,
crânio, meninges ou encéfalo. É a causa de morte mais freqüente entre os 2 e 42
anos de idade 4.
INCIDÊNCIA
A incidência de TCE é maior para homens que para mulheres em mais de
2:1. Mais de 50% dos pacientes com TCE está entre as idades de 15 e 24 anos 9.
FISIOPATOLOGIA
É importante que sejam compreendidos
os mecanismos da lesão cerebral, visto que há conseqüências sensoriomotoras,
cognitivas, comportamentais e sociais diretamente seqüenciais à injúria 5.
As lesões primárias ocorrem segundo a biomecânica que
determina o trauma. As lesões secundárias ocorrem segundo alterações
estruturais encefálicas decorrentes da lesão primária bem como de alterações
sistêmicas decorrentes do traumatismo. O objetivo principal do tratamento é
evitar ou minimizar as lesões cerebrais secundárias 4. Lesão Primária
Decorrente da ação da força
agressora, ou seja, ligada ao mecanismo do trauma. Nos TCE dois tipos de
fenômenos biomecânicos podem ocorrer 4:
a)
Impacto: certa quantidade de energia é
aplicada sobre uma área relativamente pequena, sendo dependente da intensidade
e do local do impacto;
b)
Inerciais: o cérebro sofre em condições de
mudança abrupta de movimento: aceleração ou desaceleração por absorver esta
energia cinética. Principais lesões primárias:
a)
Fraturas 3;
b)
Contusões e lacerações da substância cinzenta: lesões
corticais atingindo cristas das circunvoluções. Pode-se observar extravasamento
de sangue em forma de hemorragia subpial. Mecanismos geralmente associados são
a aceleração e desaceleração rotatórias (base do lobo frontal e pólo temporal
anterior), compressão direta, lesões por contragolpe localizadas no pólo oposto
ao impacto. Achados mais específicos são a hemorragia e a necrose (sangue
extravasado comprime células próximas causando isquemia focal). Resultado é
lesão anóxica das células neuronais e gliais, tumefação e fragmentação dos
axônios com desmielinização das fibras 4;
c)
Lesão axonal difusa: é secundária ao cisalhamento das
fibras mielínicas com degeneração walleriana da bainha de mielina das fibras
seccionadas. Esta lesão ocorre quando uma força de impacto com um componente de
aceleração rotatória atinge os feixes de fibras perpendicularmente, fazendo que
ocorra uma cizalhamento. Pequenas lesões petequiais são freqüentes no corpo
caloso e nos pedúnculos cerebelares superiores e, mais tarde, surge dilatação
ventricular por retração da substância branca, em virtude do processo de
degeneração 3. É característico de lesão de parênquima cerebral
sendo que o coma dura mais de 6 horas 7.
Lesão Secundária
As causas destas lesões podem surgir no momento do traumatismo ou após
um certo período de tempo. Do ponto de vista clínico manifestam-se tardiamente.
Do ponto de vista terapêutico, sobre as lesões primárias não podemos agir,
todavia nas secundárias, em muitos casos pode-se atuar interrompendo o processo
fisiopatológico de seu desenvolvimento, evitando o agravamento da lesão 4.
a)
Hematomas intracranianos classificam-se em:
Extradurais: coleção sangüínea entre o crânio e a
dura-máter por laceração de um vaso meníngeo, de um seio venoso ou de
sangramento diplóico. Localiza-se freqüentemente na região temporal. Quadro
clínico: início assintomático e posteriormente hemiparesia contralateral,
sinais de HIC 4. O paciente passa por um intervalo lúcido, ou seja,
fica inconsciente e de repente ele volta a ter uma certa consciência.
Tratamento é cirúrgico 5. Subdurais:
caracteriza por uma coleção sangüínea entre a dura-máter e o cérebro 5.
A causa mais comum é a ruptura traumática de veias cortico-meníngeas que vão do
córtex aos seios durais. Freqüentemente em regiões temporais e frontais.
Tratamento é cirúrgico e prognóstico menos animador que o anterior4. Intraparenquimatosos: coleção compacta de
sangue alojada dentro do parênquima cerebral. A localização preferencial é no
lobo temporal e, em seguida, no lobo frontal 4. É uma lesão mais
séria e tem um volume de sangue acima de 5 ml. Geralmente este paciente vai
evoluir para o coma 5.
b)
Hipertensão intracraniana: é uma das complicações mais
freqüentes do TCE e a principal causa de óbito no momentos iniciais da
evolução. A pressão intracraniana tende a se elevar acima de 15 mmHg.
Mecanismos mais freqüentes no desenvolvimento da HIC 4:
Aumento da massa cerebral por edema cerebral ou
exsudatos inflamatórios: considera-se edema o aumento do volume do parênquima
cerebral devido a aumento de seu conteúdo em água.
Aumento do volume e da pressão do LCR: por
hidrocefalia obstrutiva ou cistos aracnóideos traumáticos.
Aumento do volume de sangue intracraniano: por
hiperemia ou congestão da microcirculação ou hematomas e hemorragias intracranianas.
Hiperemia é a congestão da microcirculação por vasoplegia, aumentando o volume
de massa cerebral por acúmulo de sangue no leito vascular vasoplégico.
Conseqüências mecânicas da HIC: desvio encefálico supratentorial podendo ser
identificado por suas etapas finais que são a hérnia do cíngulo, hérnia
transtentorial e hérnia do uncus do hipocampo. Os deslocamentos ou herniações
supratentoriais podem causar complicações vasculares, obstrutivas. As que se
localizam debaixo da foice comprimem a artéria cerebral anterior. Tanto a
hérnia transtentorial como a hérnia uncal comprimem a artéria cerebral
posterior, produzindo infarto e edema na área occipital. A mais importante é a
herniação que bloqueia o aqueduto e assim o fluxo liquórico 4.
c)
Lesão cerebral isquêmica: em regiões pericontusionais,
na oclusão as artéria posterior por herniação transtentorial, em pacientes com
hipotensão sistêmica 4. TIPOS DE TCE
7
a)
Traumatismos cranianos fechados: quando não há
ferimentos no crânio ou existe apenas uma fratura linear. Estes podem ser
subdivididos em: concussão (aquele sem qualquer lesão estrutural macroscópica
do cérebro), e aquele com destruição do parênquima cerebral onde há edema,
contusão, laceração ou hemorragia. Concussão é uma breve perda de consciência
depois do traumatismo sendo atribuída por uma desconexão funcional entre o
tronco cerebral e os hemisférios e geralmente recobre a consciência antes de 6
horas;
b)
Fratura com afundamento do crânio: o pericrânio está
íntegro, porém um fragmento do osso fraturado está afundado e comprime ou
lesiona o cérebro;
c)
Fratura exposta do crânio: indica que os tecidos
pericranianos foram lacerados e que existe uma comunicação direta entre o couro
cabeludo lesionado e o parênquima cerebral através dos fragmentos ósseos
afundados ou estilhaçados e da dura lacerada.
|
GRUPO DE RISCO
|
CARACTERÍSTICAS
|
Baixo |
Assintomático,
cefaléia, tonteira, hematoma ou laceração do couro cabeludo, ausência de
critérios de risco moderado ou alto. |
Moderado |
Alteração
da consciência no momento do traumatismo ou depois; cefaléia progressiva;
intoxicação com álcool ou drogas; história inconfiável ou ausente do
acidente; idade inferior a 2 anos (a menos que traumatismo seja banal);
convulsão pós-traumática, vômito, amnésia; politraumatismo, traumatismo
facial grave, sinais de fratura basilar; possível penetração no crânio ou
fratura com afundamento; suspeita de violência contra a criança. |
Alto |
Depressão
da consciência (não claramente devida a álcool, drogas, encefalopatia
metabólica, pós-crise); sinais neurológicos focais, nível decrescente da
consciência; ferida penetrante do crânio ou fratura com afundamento palpável. |
COMPLICAÇÕES
a)
Lesões vasculares: hemorragia, trombose, aneurismas 7;
b)
Infecções: osteomielite, meningite, abcesso 7;
c)
Rinorréia liquórica 7;
d)
Otoliquorréia 7;
e)
Pneumocele 7 ;
f)
Cistos
leptomeníngeos 7;
g)
Lesão de nervos cranianos 7;
h)
Lesões focais do cérebro 7;
i)
Diabetes
insípido: é raro e ocorre em virtude de danos na neuro-hipófise 10.
a)
Crises convulsivas 7;
b)
Psicose 7;
c)
Síndrome pós-traumática (não apresenta base patológica
definida): com alteração da memória e da concentração, alterações da
personalidade, cefaléia, desordens neurológicas focais ou convulsões. A
demência é caracterizada por afeto alegre ou lábil, lentidão mental, déficit de
memória e irritabilidade. As anormalidades neurológicas associadas incluem
tremor, rigidez, bradicinesia, disartria, ataxia cerebelar, sinais piramidais e
convulsões. As investigações neurológicas podem mostrar uma atrofia cortical e
cavum de septo pelúcido 3,
d)
Epilepsia pós-traumática: ocorre em casos em que há
convulsões iniciais na primeira semana depois da lesão, fratura de crânio com
depressão, hematoma intracraniano, amnésia pós-traumática por >24 horas 10;
e)
Espasticidade: desenvolve-se após alguns dias ou nas
primeiras semanas. Os objetivos do tratamento são melhorar a função, prevenção
de contraturas, e prevenção da dor 10;
f)
Ossificação
heterotópica: neoformação óssea periarticular. Sinais clínicos: dor, edema,
aquecimento e ADM reduzida 10.
As informações sobre o evento
traumático devem ser colhidas de observadores. Deve-se procurar saber sobre a
causa do traumatismo, a intensidade do impacto, a presença de sintomas
neurológicos, convulsões, diminuição de força, alteração da linguagem, e,
sobretudo, deve-se documentar qualquer relato de perda de consciência 8.
Pesquisar:
a)
Tipo de traumatismo 4;
b)
Tempo decorrido entre o acidente e o exame 4;
c)
Informações sobre conseqüências imediatas como perda
da consciência, vômitos, crises convulsivas e sobre antecedentes que possam
estar relacionados ao acidente, como desmaios, passado comicial, vertigens 4.
Importante investigar o estado de consciência, reação
pupilar, movimentos dos olhos, reflexos oculares, respostas motoras, e padrões
respiratórios 5.
EXAMES
SUBSIDIÁRIOS
a)
Raio X de crânio nas incidências
ântero-posterior e lateral: as fraturas da convexidade são geralmente bem
visíveis, mas as fraturas da base podem ser vistas em menos de 10% dos caso 8;
b)
Tomografia computadorizada: quando paciente
apresenta distúrbio de consciência, sinal focal ao exame, convulsão
pós-traumática, fraturas, insuficiência respiratória e/ou circulatória4.
A tomografia computadorizada de crânio pode demonstrar fraturas,
hematomas intra e extra-cerebrais, áreas de contusão, edema cerebral,
hidrocefalia, e sinais de herniação cerebral 8;
c)
Angiográfico encefálico: permite diagnóstico
de processos expansivos traumáticos 4. É indicado para avaliar
lesões vasculares no pescoço ou na base do crânio 8;
d)
EEG 4;
e)
Potenciais evocados (auditivo,
sômato-sensitivo e visual) 4;
f)
RM: A
ressonância magnética permite verificar a presença de lesões de difícil
visualização à tomografia computadorizada, como hematomas subdurais, além de
definir melhor a presença de edema. Entretanto, é um exame prolongado, o que
dificulta a sua realização de rotina em pacientes com TCE 8;
g)
Monitorização da pressão intracraniana: a
partir da análise da pressão liquórica subaracnóidea ou intraventricular,
através da utilização de parafusos ou catéteres conectados a transdutores
pressóricos e a instrumentos de medida e de registro 4.
TRATAMENTO
A
abordagem do paciente com TCE é realizada em 3 fases 4:
a)
Atendimento correto no local do acidente e
remoção adequada ao hospital;
b)
Atendimento inicial na sala de emergência
para avaliação diagnóstica e terapêutica com a finalidade de reanimação e
estabilização da função ventilatória e de estabilização hemodinâmica do
paciente;
c)
Tratamento clínico e/ou cirúrgico com medidas
de suporte básico (suporte respiratório, hemodinâmico, hidroeletrolítico,
nutricional) e específico. O suporte respiratório é importante pois estes
pacientes perdem os reflexos faríngeo, laríngeo e traqueal levando a obstrução
mecânica da vias aéreas diminuindo o volume corrente, hipóxia e hipercapnia.
Principais alterações respiratórias são alteração do ritmo respiratório, edema
pulmonar neurogênico, pneumonia aspirativa. Finalidade do suporte respiratório
é evitar hipoxemia mantendo pO2 entre 60 a 100 mmHg e evitar a
retenção de CO2 que leva a vasodilatação e conseqüente aumento do
volume sangüíneo intracerebral e elevação da pressão intracraniana.
Dentro
de suporte específico estão:
a)
Controle de pressão intracraniana: decúbito
elevado de 30° e cabeça em posição neutra (facilita a drenagem venosa e com
isso diminui a PIC; a cabeça na posição neutra não comprime as jugulares),
hiperventilação e pressão intracraniana (a hiperventilação causa redução aguda
da pCO2. A hipocapnia causa diminuição do fluxo sangüíneo cerebral
no tecido normal e a alcalose ajuda a reverter a acidose tecidual nas regiões
perilesionais), drogas (diuréticos, corticoesteróides).
b)
Manutenção da pressão de perfusão cerebral a
todos os tecidos. PPC=PAM-PIC. Em todo paciente com TCE que apresenta HIC
deve-se manter a pressão arterial média moderadamente elevada, pois se a
pressão de perfusão cerebral for menor que 60mmHg ocorre perda do mecanismo da
auto-regulação cerebral e o leito vascular fica totalmente passivo em relação
às variações pressóricas.
c)
Tratamento das fístulas liquóricas e
Infecções do SNC: osteomielites do crânio, abscessos intracerebrais, meningites
e tromboflebites dos seios durais são as Infecções mais comuns.
CONDUTA
FISIOTERAPÊUTICA
10
Grande
parte dos TCE (95%) é descrita como de pouca gravidade, coma < 6 horas e APT
< 24 horas. Os restante 5% de TCE podem ser descritos como graves e, como
tal, apresentam algumas áreas específicas de problemas, a saber:
a)
Incapacidade física;
b)
Dependência nas AVD´S;
c)
Deficiência cognitiva;
d)
Distúrbio comportamental;
e)
Problemas emocionais;
f)
Problemas
psiquiátricos.
Conduta
fisioterapêutica inicial
a)
Enfatiza a promoção de boa função
respiratória e a prevenção de contraturas, e tratará as conseqüências da
espasticidade e as anormalidades de movimento e de tônus muscular.
b)
A fisioterapia respiratória visa evitar a
produção de secreções, possível infecção e insuficiência respiratória, e
ampliar a oxigenação do cérebro. Nesta fase, o paciente deve ser manipulado
adequadamente, evitando-se a superestimulação, e o posicionamento na cama. Os
exercícios de ADM devem ser realizados diariamente e devem-se aplicar gesso em
série, talvez combinados com bloqueios de nervos periféricos ou com injeções de
toxina botulínica.
Conduta
fisioterapêutica a longo prazo depois de lesão cefálica grave
Os objetivos desse programa são limitar as
complicações secundárias, enquanto se maximiza toda e qualquer habilidade
remanescente.
Complicações
a)
Contraturas que produzem deformidade postural
fixa;
b)
Úlcera de decúbito;
c)
Habilidade mascarada, isto é, a habilidade
que não pode ser utilizada devido à dominância de sinais neurológicos
positivos, como espasticidade;
d)
Cansaço, desconforto;
e)
Potencial para confinamento ao leito.
Avaliação
fisioterápica
Identificar os problemas, estabelecer metas e
implementar o atendimento apropriado. A seguir, uma sugestão de formulário,
dividido em três partes:
QUADRO
2: Formulário para avaliação
fisioterápica
INFORMAÇÕES
GERAIS |
FATORES
NEGATIVOS – AVALIAÇÃO ESTÁTICA |
FATORES
POSITIVOS – AVALIAÇÃO DINÂMICA |
Visão |
Postura preferida |
Capacidade postural – avaliação em
decúbito, sentado e em posição ortostática |
Audição |
Padrão de deformidade |
Habilidade motora – também avaliada em
decúbito, sentado e em posição ortostática |
Compreensão |
Contratura articular |
Modo de transferência, por exemplo,
erguer-se/levantar-se, transferência em posição ortostática |
Fala/comunicação |
Fenômenos de liberação neurológica |
|
Comportamento |
Reações neurológicas |
|
Complicações ortopédicas |
Estado respiratório |
|
Sensação |
Úlceras de decúbito |
|
Perfil dos fármacos utilizados |
Posicionamento na cadeira de rodas |
|
Apoio dos familiares |
Posicionamento no leito |
|
A partir dos fatores positivos e negativos é
possível identificar problemas que exigem intervenção específica, estabelecer
objetivos a curto e longo prazo para o paciente, para determinar as necessidade
de conduta fisioterapêutica e para implementar um plano de atendimento.
Plano
de atendimento
Controle de postura em decúbito, sentado e
posição ortostática:
a)
Em decúbito: muitos pacientes apresentam posturas
assimétricas e descerebradas e são incapazes de aceitar a sustentação da
superfície do leito. Isso ocasiona carga desigual no leito. A postura pode ser
modificada com apoio adicional (travesseiros, rolos de espuma, calços em forma
de cunha), que proporcionam estabilidade aos segmentos do corpo.
b)
Sentado: os pacientes normalmente não ficam
sentados adequadamente e com segurança nas cadeiras de roda. A base de
sustentação deve ser aumentada, dando-se apoio apropriado para o tronco, de
modo a mantê-lo alinhado sobre a base. A cadeira de rodas imprópria pode
exacerbar os problemas físicos do paciente. Existem três padrões posturais
típicos ao sentar: postura em “C” (afundamento, cifótico), postura arqueada
(corpo fica arqueado para trás, a partir do cóccix, com lordose lombar
exagerada. MMII tendem a flexão e os MMSS a extensão), postura assimétrica
(MMII podem ficar desviados, a pelve fica inclinada e sofre rotação e o tronco
e a parte lateral da cabeça, flexionados e rotados).
c)
Postura ortostática: é atingida pela
sustentação mecânica de uma prancha inclinada, na qual a ADM articular dos MMII
torna esse procedimento seguro e estável.
Manutenção da amplitude de movimento nas
articulações. A ADM reduzida contribui a contraturas, as posturas assimétricas
e para posição instável. Consegue-se através de alongamento passivo-lento,
alongamento manual utilizando o efeito da gravidade e do peso corporal ou
mecanicamente em aparelhos ou talas e o engessamento
Cuidados respiratórios, pois o paciente
apresenta excursão pulmonar limitada em virtude da perda de função dos músculos
respiratórios e ao controle postural deficitário, e isso predispõe à infecção
torácica. Técnicas: drenagem postural, reeducação postural para melhor entrada
de ar, ensinar tosse produtiva, exercícios respiratórios.
Reforço das habilidades remanescentes,
estimulando o interesse em uma tarefa, introduzindo um elemento de competição e
a repetição freqüente, pode ampliar o desempenho mesmo nas tarefas mais
simples. As atividades de lazer, como nadar, devem ser incentivadas, assim como
as atividades na cadeira de rodas, como arco flecha e tênis de mesa. As
atividades sociais também são importantes, por exemplo, freqüentar eventos esportivos
ou teatros.
O objetivo global do programa de tratamento é
assegurar que o paciente desfrute de uma melhor qualidade de vida possível, em
termos de bem-estar geral e controle das complicações secundárias, ao mesmo
tempo em que explora a independência total que lhe é permitida.
Abordagens
fisioterápicas
Pode-se empregar aspectos da abordagem de
Bobath, reaprendizado motor, de Hare e outras. As técnicas fisioterápicas
específicas usadas são aplicação de frio, calor e as técnicas relacionadas com
o tratamento da espasticidade.
As técnicas de Bobath: visam a normalização
do tônus nos membros afetados, por meio de técnicas e posturas inibitórias e
pela facilitação do movimento correto, por manipulação do fisioterapeuta 2.
A facilitação neuromuscular proprioceptiva
(FNP) é uma filosofia de tratamento, onde todo o ser humano, incluindo aqueles
portadores de deficiências, tem um potencial ainda não explorado, utilizando
para isso procedimentos básicos de facilitação para ajudar o paciente a atingir
uma função motora mais eficiente 1.
ESTÁGIOS DE RECUPERAÇÃO DO TCE
5
A recuperação do TCE freqüentemente
tem forma variável e complexa. E para facilitar a comunicação entre as
diferentes especialidades, foram desenvolvidas escalas de recuperação. As
diferentes escalas de pontuação descrevem basicamente os estágios de
recuperação observados imediatamente ao traumatismo e durante a fase aguda da
recuperação.
Avalia o nível de consciência do paciente, permitindo
que os clínicos pontuem a gravidade da lesão, e monitorem a recuperação do
paciente desde o estado inconsciente, até o estado consciente. Esta escala
pontua três tipos de respostas: abertura do olho, melhores respostas motoras, e
resposta verbal.
A abertura do olho é observada e pontuada conforme
ocorra espontaneamente em resposta à fala, à dor, ou se não abre o olho
absolutamente.
Dentro da categoria motora, usa-se uma escala de 0 a
6. Um paciente que pode obedecer comandos motores receberá a maior pontuação
(6). Para os pacientes que não podem responder a instruções, um estímulo
doloroso é aplicado aos leitos das unhas, ou à região supraorbitária. Se a mão
movimenta no sentido do estímulo doloroso, a resposta é pontuada como
localizante (5 pontos). Um paciente que demonstra uma resposta de retirada a
partir de um estímulo receberá uma pontuação de 4. Respostas em qualquer destas
três categorias principais são indicativas de tratos descendentes intactos. A
postura flexora anormal é uma resposta de decorticação caracterizada por uma
flexão dos braços e das pernas. Recebe uma pontuação de 2, e indica um nível
funcional de lesão entre o córtex e o núcleo rubro. A postura extensora anormal
de todos os quatro membros representa descerebração, recebendo pontuação 1. O
nível funcional da lesão situa-se entre o núcleo rubro e núcleos vestibulares.
Ausência de lesão abaixo dos núcleos vestibulares.
A fala do paciente é classificada da seguinte maneira:
normal com conversação orientada, palavras confusas, inadequadas, sons
(grunhidos e gemidos) ou nenhuma vocalização.
Esta escala vai de 3 a 15, onde 90% dos pacientes com
uma pontuação de 8 ou menos estão em coma (incapazes de abrir os olhos, de
fazer qualquer som reconhecível, ou seguir qualquer comando), enquanto que
todos os pacientes com uma pontuação de 9 ou mais estão fora de coma.
QUADRO 3: Escala de coma de Glasgow
Resposta
verbal
|
|
Nenhuma
-------------------------------------1 |
Sons incompreensíveis
---------------------2 |
Palavras inadequadas
-----------------------3 |
Confuso ---------------------------------------4 |
Orientado
-------------------------------------5 |
|
Abertura
ocular
|
Nenhuma
------------------------------------- 1 |
À dor
-----------------------------------------
2 |
À fala
----------------------------------------- 3 |
Espontaneamente
----------------------------4 |
|
Resposta
motora
|
Nenhuma
------------------------------------- 1 |
Extensão anormal
----------------------------2 |
Flexão anormal
-------------------------------3 |
Retirada
---------------------------------------4 |
Localiza
---------------------------------------5 |
Obedece
---------------------------------------6 |
Total: soma dos três componentes
Escala de medição
da locomoção independente funcional (FIM)
A FIM mesura a evolução da locomoção em relação à marcha
ao subir e descer escadas, sendo um valioso instrumento para avaliar a
recuperação da locomoção, em pacientes com lesões cerebrais traumáticas ou não.
QUADRO 4: FIM
LOCOMOÇÃO – MARCHA
|
|
SEM AJUDANTE |
AJUDANTE |
7
– Independência completa: paciente caminha com segurança uma distância mínima
de 50 metros sem qualquer auxílio. |
4
– Auxílio com contato mínimo: paciente executa 75% ou mais dos esforços da
locomoção para percorrer ao menos 50 metros. |
6
– Independência modificada: paciente caminha uma distância mínima de 50
metros, mas usa órteses ou próteses, muletas ou um andador, demora mais tempo
que o necessário ou há considerações de segurança. |
3
– Auxílio moderado: paciente executa de 50 a 74% dos esforços da locomoção
necessários para percorrer ao menos 50 metros. |
5
– Paciente caminha independentemente distâncias breves ( mínimo de 17
metros), com ou sem dispositivos. Paciente requer supervisão, indicações ou
estímulos para percorrer pelo menos 50 metros. |
2
– Auxílio máximo: paciente executa 25 a 49% dos esforços da locomoção
necessários para percorrer ao menos 17 metros. Necessita auxílio de somente
uma pessoa. |
|
1
– Auxílio total: paciente executa menos de 24% dos esforços, ou requer
auxílio de duas pessoas ou não caminha. |
ESCADAS |
|
SEM AJUDANTE |
COM AJUDANTE |
7
– Independência completa: paciente sobe e desce com segurança ao menos um
nível de escadas (12 a 14 degraus), sem depender de corrimão ou qualquer tipo
de apoio. |
4
– Auxílio com contato mínimo: paciente executa 75% ou mais dos esforços
necessários para subir e descer um nível de escada. |
6
– Independência modificada: paciente sobe e desce ao menos um nível de
escada, mas necessita de apoio
lateral, corrimão ou muletas, demora mais tempo que o necessário ou há
considerações de segurança. |
3
– Auxílio moderado: paciente executa de 50 a 74% dos esforços necessários
para subir e descer um nível de escada. |
5
– Paciente sobe e desce 4 a 6 degraus independentemente com ou sem
dispositivos. Demora mais tempo que o necessário ou há considerações de segurança.
Paciente requer supervisão ou que lhe forneça indicações para subir ou descer
um nível de escada. |
2
– Auxílio máximo: paciente executa 25 a 49% dos esforços necessários para
subir e descer 4 a 6 degraus.
Necessita de auxílio de somente uma pessoa. |
|
1
– Auxílio total: paciente executa menos de 25% dos esforços, ou requer
auxílio de duas pessoas, ou não sobe e
desce 4 a 6 degraus ou é carregado. Adaptação: a locomoção em cadeiras de
rodas não foi considerada. |
Com base nos achados bibliográficos, o TCE pode ser classificado em três categorias: leve, moderado e
grave. No grau leve o paciente pode apresentar-se consciente, confuso e
levemente sonolento, porém desperta-se após estímulos apropriados. Nos casos
graves a vítima do traumatismo apresenta-se em coma, sem abertura ocular. Os
casos intermediários são classificados como moderados. Apesar da alta
incidência de traumatismo craniano, felizmente, tanto nas incidências
americanas quanto nas nacionais, a grande maioria (50 a 75%) são considerados
leves, não apresentando o paciente qualquer sinal ou sintoma de lesão
neurológica, de fratura craniana ou trauma cerebral. Estes pacientes recebem
então alta hospitalar orientações de como proceder se sinais de complicações
tardias ao traumatismo aparecerem.
Os pacientes
vítimas de TCE com Escala de Glasgow menor ou igual a 8, são classificados como
TCE grave e são os que apresentam piores prognósticos em relação à sobrevida e
à recuperação. Muitos apresentarão HIC o que inibe os médicos a indicarem a
fisioterapia motora, realizando apenas a respiratória. No entanto, o decúbito
dorsal prolongado predispõem à atividade reflexa anormal, devido à influência
dos reflexos tônicos cervicais e labirínticos; enquanto a imobilidade no leito
predispõem à rigidez articular, aderências capsulares, trombose venosa,
pneumonias, ossificação heterotópica e miosite ossificante. A fisioterapia deve
ser realizada sem maiores complicações, desde que se evite manobras que
aumentem a pressão intratorácica, que
dificultem o retorno venoso cerebral. Portanto, não há motivos para permitir
que qualquer paciente permaneça estático no leito ou que não seja colocado em
decúbito lateral. Para isto, basta manter a coluna cervical alinhada, sem
compressões sobre a jugular, que a drenagem venosa cerebral se dará
normalmente, sem repercussões sobre a PIC. O posicionamento em decúbito lateral
sobre o lado afetado, reduz a espasticidade. É essencial que qualquer vítima de
lesão cerebral seja colocado em postura ortostática o mais precoce possível,
mesmo que ainda esteja inconsciente. O ortostatismo apresenta os seguintes
benefícios: redução da ocorrência de contraturas, redução da espasticidade em
membros inferiores, redução dos períodos de inconsciência, menor temor ao
deambular, melhora da circulação, diminui escaras, melhora da função da bexiga
e do desempenho motor em tarefas do dia-a-dia 5.
A fisioterapia motora precoce deve ser
realizada em todos os pacientes vítimas de TCE, mesmo nos que se encontram na
fase aguda e com HIC, bastando apenas usar o bom senso, para não elevar a PIC
de forma significativa. A fisioterapia motora mostra-se essencial e
indispensável desde a terapia intensiva até a alta hospitalar para que se possa
ter uma plena recuperação e retorno às atividades.
Conclui-se que a prevenção é o principal
artifício utilizado para redução do alto índice de mortalidade e morbidade
deixado por tal trauma através de programas e campanhas de prevenção de
acidentes direcionados principalmente às suas principais vítimas: crianças e
adultos jovens.
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1994.
10 STOKES, Maria. Neurologia para fisioterapeutas.
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- Publicado em 27/09/05
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