Resumo:
A Capsulite Adesiva do ombro ou (“ombro congelado”), ocorre na cápsula
articular da glenoide, onde ela se encontra espessa, inelástica e friável,
com perda de movimentos ativos e passivos do ombro. O objetivo deste
trabalho é revisar as intervenções fisioterapêuticas na Capsulite Adesiva do
ombro. Conclusão encontrada nesta revisão é que a fisioterapia fundamental
no tratamento da Capsulite Adesiva, utilizando modalidades
eletrotermofototerápicos para o alivio dos sintomas também podendo associar
a técnicas de bloqueios do nervo supra-escapular, mas ferramenta principal
para o sucesso no tratamento da capsulite é a cinesioterapia.
Palavras Chaves:
Fisioterapia, Capsulite Adesiva
Introdução:
A Capsulite Adesiva do Ombro ou (“ombro Congelado”), ocorre na cápsula
articular da glenoide, de forma espessa, inelástica e friável, ocasionando a
perda dos movimentos ativos e passivos na articulação glenoumeral (PRENTICE
2002; LECH; SUDBRACK; VALENZUELA , 1993).
Figura 01: Fonte:
www.fisioweb.com.br
O acometimento desta patologia no ombro aparece com certa freqüência,
atingindo de 3-5% da população em geral, sendo mais freqüente em indivíduos
do sexo feminino. Seu aparecimento se dá durante a quinta e a sexta década
de vida, com incidência maior em indivíduos que sofrem de diabetes. Quanto
ao lado acometido podemos encontrar bilateralmente. (MANOLE; McPOIL; NITZ,
2000; CHECCHIA, et al 2006).
Segundo Craig (2000), a causa da Capsulite Adesiva do ombro é desconhecida.
Mas em geral, qualquer processo que leve a restrição gradual da amplitude de
movimento do ombro, poderá causar contraturas dos tecidos moles e uma
rigidez dolorosa. Entre as causas mais comuns podemos citar as afecções
degenerativas da coluna cervical ou radiculopatia, síndrome do impingimento
subacromial, artrite acromioclavicular, bursite pós-traumática e sinuvite
inflamatória do ombro.
O quadro clínico caracteriza-se por dor mal localizada no ombro tendo início
espontâneo, geralmente sem qualquer história de trauma. A dor torna-se muito
intensa, mesmo em repouso, e a noite sua intensidade costuma diminuir em
algumas semanas. A mobilidade do ombro torna-se limitada em todas as
direções (elevação, rotação interna, rotação externa e abdução). Uma
característica sempre presente é o bloqueio dos movimentos de rotação
interna e externa. O quadro costuma ter uma evolução lenta, não inferior de
quatro a seis meses, antes do diagnóstico defendido. (LECH; SEVERO 2003)
Segundo Neviaser (1987), existem quatro estágios de evolução da Capsulite
Adesiva do ombro, sendo:
* 1º Estágio de Pré-Adesão: caracterizado por mínima ou nenhuma perda
de movimento articular. Há uma reação inflamatória sinovial que só pode ser
detectada por visualização artroscópica.
* 2º Estágio de Sinovite Adesiva Aguda: caracterizado por sinovite
proliferativa e formação de aderências.
* 3º Estágio de Maturação: caracterizada por redução de sinovite com
perda da prega axilar.
* 4º Estágio Crônico: as aderências estão totalmente estabelecidas e
são marcadamente restritivas.
O objetivo da fisioterapia é eliminar o desconforto e restaurar a mobilidade
e a função do ombro. As modalidades de tratamento fisioterapêutico na
capsulite adesiva, podem ser utilizados recursos eletrotermofototerapicos,
para alívio dos sintomas e, cinesioterapia para restabelecer amplitude de
movimento e a função do ombro. (MORELLI 1989; CONNOLLY 1972; LECH; SEVERO
2003; FENELON, 2001).
O presente escopo tem como objetivo principal fazer uma revisão na
literatura da Capsulite Adesiva do ombro e, através disso, poder acrescentar
um programa de fisioterapia diferenciado dos demais para a melhoria das
atividades da vida diária dos indivíduos que são acometidos por essa
afecção, melhorando com isso a qualidade de vida.
DISCUSSÃO:
No estudo realizado por Macedo et al (2000), foi selecionado 30 pacientes
com diagnostico de portadores de Capsulite Adesiva da glenoumeral e
submetidos ao tratamento com bloqueio anestésico repetido do nervo supra
escapular mais a Fisioterapia. Então não foi possível estabelecer a melhora
na avaliação final do paciente se deu em conseqüência ao tempo, bloqueios ou
da fisioterapia ou mesmo da associação de todos. No entanto ocorreu
diminuição da dor, melhora da mobilidade articular, no qual os pacientes
atingiram um alto grau de satisfação.
Segundo Chechia (2006), onde avaliou 136 pacientes (144 ombros) com
Capsulite adesiva tratados no período de junho de 1994 a fevereiro de 2000,
pela técnica dos bloqueios seriados do nervo supra escapular. Foram obtidos
resultados satisfatórios em 121 ombros e melhora da dor em 132 ombros. Foi
observado que a técnica dos bloqueios seriados no nervo supra escapular
promoveu rápida e duradoura melhora da dor, facilitando a instituição de
exercícios para a recuperação de a mobilidade articular.
Para Morelli (1993), a pedra fundamental no tratamento da Capsulite Adesiva
é a cinesioterapia, às vezes associados a outras modalidades (distensão
hídrica, manipulações, e excepcionalmente cirurgia), a recuperação dos
movimentos é lenta e gradual e sempre o limite da dor deve ser observado.
Contudo esses indivíduos devem ter consciência que permanecerão por longo
tempo no tratamento da Capsulite Adesiva, e devem compreender bem sua
doença, seu curso natural, para não desanimar. É imprescindível o bom
relacionamento entre Fisioterapeuta - Paciente- Medico.
Para Ferreira (2006), no seu artigo de revisão de literatura tem em seu
tratamento Fisioterápico a crioterapia duas vezes ao dia, neuro estimulação
elétrica transcutânea TENS, exercícios pendulares e exercícios de
mobilização passiva suave no ombro, iniciado pelo fisioterapeuta e repetido
em casa, duas a três vezes ao dia pelo próprio paciente, que é estimulado a
executar espontaneamente, ou na aqueles menos cooperativos auxiliados por
familiares devidamente treinados.
Para Lech e Severo (2003), o objetivo principal da fisioterapia é melhorar o
desconforto e restaurar a mobilidade e função do ombro. Podendo ser usadas
varias modalidades terapêuticas como o Ultra-som, ondas curtas, TENS,
mobilizações ativas e passivas, mobilizações passivas oscilatórias
controladas, podendo ser dosadas grau I e II para analgésica e III e IV para
alongamento. O alongamento é decorrente a mobilizações executas e mantidas
ao limite articular disponível e com o aumento gradual da mobilidade
articular, inicia-se o exercícios ativos objetivando o retorno da
coordenação de movimentos e da função.
Fisioterapia:
As intervenções fisioterapêutica iniciais na Capsulite Adesiva são para o
alivio da dor e edema e para o aumento da mobilidade articular do ombro, e à
medida que a amplitude de movimento for aumentado podemos iniciar com
fortalecimento muscular. (JACOBS, 2005)
Intervenções Fisioterapêuticas para redução da dor
e edema:
A crioterapia significa “terapia com frio”. É aplicação terapêutica de
qualquer substancia ao corpo que resulte na remoção do calor corporal,
diminuindo assim a temperatura dos tecidos e tendo seu beneficio no alivio
da dor e do edema. (KNIGHT, 2000)
O Ultra-Som é outra modalidade terapêutica, freqüentemente usada na
fisioterapia, pois age como analgésico e se acredita que ele tem ação sobre
as mudanças na velocidade de condução nervosa, na eliminação de mediadores
da dor através do aumento da circulação local e nas alterações da
permeabilidade da membrana celular, que diminui a inflamação e facilita a
regeneração tissular. (AGNE, 2002)
Para Agne (2002), outra modalidade terapêutica que pode ser utilizada na
Capsulite Adesiva do ombro para o alivio da dor é o TENS, consiste na
aplicação de eletrodos sobre a pele intacta com o objetivo de estimular as
fibras nervosas grossas A-alfa mielinizadas de condução rápida. Esta
ativação desencadeia a nível central, os sistemas analgésicos descendentes
de caráter inibitório sobre a transmissão nociceptiva conduzida pelas fibras
não mielinizadas de pequeno calibre, gerando desta forma a redução da dor. O
TENS está sendo empregado para identificar uma série de diferentes tipos de
impulsos elétricos com fins terapêuticos como para analgésica, relaxamento
muscular, descontraturante e metabólico. É utilizado em dores agudas e
crônicas. Na maioria dos casos o TENS funciona mediante uma corrente
alternada caracterizada por uma duração e intervalo de fase ajustável,
podendo variar também sua freqüência.
Intervenções Fisioterapêuticas para o ganho da ADM
do Ombro:
Antes de iniciar o tratamento cinesioterapêutico deve-se lembrar da
artrocinematica da articulação do ombro. Pois a articulação glenoumeral é
chamada de bola e soquete, esferóide ou universal e possui três graus de
liberdade, e realiza os seguintes movimentos, para frente a flexão, para
trás a extensão, lateralmente a abdução, medialmente a adução e com o braço
junto ao corpo e com cotovelo flexionado, rodando para dentro a rotação
interna e rodando para fora a rotação externa (SMITH, WEISS, LEHMKUHL, 1997)
As mobilizações intra-articular relacionam-se aos movimentos que ocorrem
dentro da cápsula articular e descrevem a distensibilidade ou “frouxidão” na
cápsula articular, no qual permite que os ossos se movam. Os movimentos são
necessários para o funcionamento articular normal, as mobilizações incluem
em separação, deslizamento, rolamento e giro das superfícies articulares.
Cabe ao Fisioterapeuta a capacidade de traçar seus objetivos quanto ao ganho
da ADM, para aumentar a abdução os deslizamentos da cabeça do úmero deve ser
caudal, para aumentar a flexão ou rotação interna os deslizamentos devem ser
posterior e para aumentar a extensão e rotação externa o deslizamento da
cabeça umeral deve ser em sentido anterior (KISNER, 1998).
O alongamento é usado como manobra terapêutica elaborada para aumentar o
comprimento de estruturas de tecidos moles patologicamente encurtados e
desse modo ocorre o aumento da amplitude de movimentos, devendo ser
realizados inicialmente os alongamentos passivos pois possui grandes
vantagens mecânicas do que comparado ao ativo. Podem ser realizados vários
técnicas de alongamentos, como por exemplo o alongamento capsular posterior,
onde o paciente aduz horizontalmente o braço, cruzando á frente do corpo e
então utiliza a outra mão para puxar o braço o braço afetado, aumentado a
adução horizontal, para alongar a cápsula articular anterior, o alongamento
com as mãos atrás do dorso, segurando uma toalha com ambas as mãos, com o
braço atrás da região glútea, o paciente coloca o outro braço atrás da
cabeça e, lentamente, puxa superiormente a toalha com a mão superior, até
que sinta o alongamento (MAXEY, 2003; JACOBS, 2005; KISNER, 1998).
Figura 02: Fonte: 22 Exercício de alongamento
Os exercícios de Codman são realizados para a mobilidade articular do ombro,
pois as técnicas de auto mobilização fazem proveito do uso da gravidade para
separar o úmero da cavidade glenoide. Ele ajuda no alivio da dor através de
movimentos de leve tração (grau I e II) e dão mobilidade precoce as
estruturas articulares e liquido sinovial. À medida que o individuo tolera o
alongamento pode-se introduzir pesos nos punhos para conseguir uma força de
separação articular (Grau III e IV). Os exercícios devem ser realizados com
o individuo em pé em flexão lombar de 90º, sendo realizados no sentido
horário, anti-horário, látero- lateral e antero - posterior. A musculatura
escapular deve estar totalmente relaxada, com o paciente buscando,
progressivamente, alcançar maiores amplitudes (JACOBS, 2005; KISNER, 1998).
Figura 03: Fonte: (22) Exercícios de Codman
E o exercício de fortalecimento muscular deve ser acrescentado à medida que
a amplitude de movimento da articulação glenoumeral estiver aumentado.
Evoluindo da posição de decúbito dorsal até a bipedestação, aumentando a
atividade de manguito rotador e do deltóide, com os movimentos de abdução em
plano escapular, rotação externa e extensão do ombro (JACOBS, 2005). Os
exercícios podem ser aplicados por contrações musculares dinâmicas como
estáticas. Podendo ser executados isotonicamente com contrações concêntricas
e excêntricas, isometricamente e até mesmo isocineticamente (KISNER, 1998).
Deve ser empregado junto à fisioterapia um programa de exercícios
domiciliares, onde o paciente é treinado e ilustrado a realizar exercícios
auto passivos com movimentos angulares em casa, com a utilização de bastão e
roldana no teto e exercícios pendulares. A orientação é dada para que sejam
realizados com pouca intensidade, por curtos períodos de tempo e varias
vezes ao dia, mediante a um programa de exercícios específicos (LECH; SEVERO
2003; THOMPSON, 2004).
Conclusão:
Observou-se na literatura que as modalidades eletrotermofototerápicas junto
a técnicas ortopédicas de bloqueio do nervo supra-escapular tem grande
importância na redução da dor e edema, mas a parte fundamental no tratamento
da Capsulite Adesiva do ombro é a cinesioterapia, no qual atua para devolver
a mobilidade do ombro e assim recuperar a função do membro acometido
possibilitando uma melhor qualidade de vida.
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