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Trabalho realizado por:
Anderson V. Cattelan , Carini Severo e Giovana Pezzini

Tel.: (54)-316-8380 
E-mail: andercatte@upf.br  


LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS / DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (LER/DORT): A MAIS NOVA EPIDEMIA NA SAÚDE PÚBLICA BRASILEIRA

 

Resumo
 

 

Este artigo diz respeito as afecções músculoesqueléticas ocasionadas por sobrecargas biomecânicas que vêm sendo observadas nos últimos anos em todas as classes trabalhistas em nosso país, sendo considerada nos dias de hoje uma epidemia mundial denominada como LER/DORT. Estas afecções têm sido, na área da saúde, pauta de discussão e debates buscando soluções tanto para prevenir como para tratar pessoas portadoras dessa patologia.

 

Palavras-chaves: Epidemia, LER/DORT, Tratamento.

 

Introdução
 

 

As Lesões por Esforço Repetitivo (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) tornaram-se a mais nova epidemia dos últimos anos, já que a partir da década de 80 passaram a ser a mais freqüente causa de afastamento do trabalho no mundo.

Os termos LER/DORT são usados para determinar as afecções que podem lesar tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias, ligamentos, de forma isolada ou associada, com ou sem degeneração dos tecidos, atingindo principalmente membros superiores, região escapular e pescoço. Decorrente de uma origem ocupacional ela pode ser ocasionada de forma combinada ou não do uso repetido e forçado de grupos musculares e da manutenção de postura inadequada (CODO E ALMEIDA, 1998).
 

Além do uso repetitivo, a sobrecarga estática, o excesso de força para execução de tarefas, o trabalho sob temperaturas inadequadas ou o uso prolongado de instrumentos com movimentos excessivos podem contribuir para o aparecimento das enfermidades músculoesqueléticas. 
 

Assim sendo, a sigla LER ( lesão por esforço repetitivo) é insatisfatória, pois não determina outros tipos de sobrecarga que podem trazer prejuízo ao aparelho locomotor, dessa forma, a LER adquiriu um estigma negativo, passando a ser designada DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) (ZILLI,2002). O termo permitiu ampliar os mecanismos de lesão, não só restritos aos movimentos repetitivos, mas que também cincunscreve formas clínicas peculiares a algumas atividades ocupacionais e ainda propõe o estabelecimento do nexo causal classificando-o como doença ocupacional (VIEIRA, 1999).

 

 

Histórico
 

 

Acompanhando a história das doenças ocupacionais, facilmente se percebe que as LER/DORT são temas de pesquisa e discussão há muitos anos.
 

Com o advento da era industrial, teve início o processo de fabricação de produtos em massa, e a crescente especialização dos operários no sentido de melhorar a qualidade, aumentar a produção e também reduzir custos. Essa especialização levou os trabalhadores a executarem funções específicas nas empresas, com a realização de movimentos repetitivos, associados a esforço excessivo, levando muitos trabalhadores a sentir dores (NAKACHIMA, 2002). 
 

Segundo Moreira e Carvalho (2001) o professor italiano Bernardino Ramazzini, considerado pai da medicina ocupacional, forneceu a primeira contribuição histórica, em 1713, fundamentando em 54 profissões de sua época. Nesse trabalho ele não só identificou os distúrbios, mas também traçou uma causa ocupacional. Ele acreditava que as lesões encontradas em escreventes eram causadas pelo uso repetitivo das mãos, pela posição das cadeiras e pelo trabalho mental excessivo.
 

No século seguinte, foram descritos na Europa quadros clínicos afetando o esqueleto axial e periférico de trabalhadores que desempenhavam distintas tarefas laborativas. Na época esta sintomatologia foi chamada de “cãimbras ocupacionais”. Entre as várias atividades ocupacionais envolvidas, salientava-se a “cãimbra do escrevente”, que atingiu níveis de epidemia no serviço civil britânico em 1833 (MOREIRA E CARVALHO,2001).
 

Em 1888, o neurologista William Gowers relatou casos de trabalhadores com sintomas de ansiedade, de insatisfação com o trabalho ou do peso de responsabilidades. Ressaltou ainda a instabilidade emocional desses indivíduos e admitiu sua grande dificuldade em distinguir uma neurose de um quadro de simulação de doença. Desde então, diversos países industrializados têm passado por epidemias de diagnósticos envolvendo tais distúrbios (MOREIRA E CARVALHO,2001).

 

Epidemiologia
 

 

A diversidade de conceitos observados na literatura dificultam a obtenção concreta de dados para o estudo da incidência e da prevalência dos diferentes tipos de doenças e das condições clínicas das chamadas LER/DORT, que costumam surgir em rápidas escaladas na forma de surtos. Uma outra dificuldade é que os estudos na sua grande maioria não têm a colaboração de empresas e seus empregados pelo medo de exposição e o risco de demissões de seus cargos.
 

Segundo Moreira e Carvalho (2001), as estatísticas do Conselho Nacional de Segurança dos EUA, a indenização referente aos DORT é 50% mais custosa que a reinvindicada por trauma agudo (acidente de trabalho). O tempo perdido de trabalho nos pacientes com DORT nos EUA é extremamente maior do que com os outros distúrbios músculoesqueléticos, como, por exemplo, a dor lombar.
 

Existem inúmeros trabalhadores com queixas de dor atribuída a seu trabalho. A patologia é reconhecida pela atual legislação brasileira gerando grande interesse nos meios médicos. O ônus gerado ao governo, às indústrias e aos trabalhadores, levam os meios médicos a realizar estudos e discussões que possam contribuir para uma melhor compreensão dessa patologia já considerada como epidemia na saúde brasileira (NAKACHIMA, 2002).
 

No Brasil, os dados dessas afecções são deficientes, mas a quantidade de diagnósticos de LER/DORT tem dimensões muito altas. Considerando assim que na última década nosso país presenciou uma situação epidêmica com relação aos DORT, tornando-se esta patologia a segunda maior causa de afastamento do trabalho no Brasil. Somente nos últimos 5 anos foram abertos 532.434 CATs (Comunicação de Acidente de Trabalho) geradas pelas LER/DORT. A cada 100 trabalhadores da região Sudeste do Brasil, 1 é portador de LER/DORT (AMERICANO, 2001).
 

Num estudo realizado na cidade de São Paulo, onde foram examinados 1.560 pacientes, o sexo feminino representou 87% dos casos; sendo que a faixa etária mais afetada oscilava entre 26 e 35 anos (MOREIRA E CARVALHO, 2001).
 

Em outro estudo realizado pela Cassi (Caixa de Assistência aos Funcionários do Banco do Brasil) no ano de 2000, 26,2 % dos funcionários do Banco do Brasil apresentaram algum sintoma que está relacionado à LER/DORT (AMERICANO, 2001).
 

Vários fatores vêm impulsionando a enorme quantidade de diagnósticos de LER ou DORT em nosso país, entre eles: tensão social; alto índice de desemprego; predisposição ética; falta de organização no ambiente de trabalho; influência da ação de sindicatos; ações políticas; oportunismo de advogados; influência da mídia; interesses por indenizações ou aposentadorias.

Etiologia
 

 

Quando um indivíduo apresenta uma lesão ocasionada por sobrecarga biomecânica ocupacional, os fatores etiológicos estão associados à organização do trabalho envolvendo principalmente equipamentos, ferramentas, acessórios e mobiliários inadequados; descaso com o posicionamento, técnicas incorretas para realização de tarefas, posturas indevidas, excesso de força empregada para execução de tarefas, sobrecarga biomecânica dinâmica; uso de instrumentos com excessos de vibração, temperatura, ventilação e umidade inapropriadas no ambiente de trabalho (MOREIRA E CARVALHO,2001).
 

Sabe-se então que um ambiente de trabalho organizado, com pessoas bem treinadas e condicionadas com respeito aos fatores ergonômicos e aos limites biomecânicos certamente diminuem o risco de desencadeamento das chamadas LER/DORT (MOREIRA e CARVALHO, 2001)

 

 

Distúrbios mais freqüentes
 

 

Alguns dos principais distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho citados por Couto (1998) são: tendinite e tenossinovite dos músculos dos antebraços, miosite dos músculos lumbricais e fasciíte da mão, tendinite do músculo bíceps, tendinite do músculo supra-espinhoso, inflamação do músculo pronador redondo com compressão do nervo mediano, cisto gangliônico no punho, tendinite De Quervain, compressão do nervo ulnar, síndrome do túnel do carpo, compressão do nervo radial, síndrome do desfiladeriro torácico, epicondilite medial e lateral, bursite de cotovelo e ombro, síndrome da tensão cervical e lombalgia.

 

 

Fatores de Risco
 

 

Para identificar e abordar as causas de LER/DORT é necessário considerar vários aspectos do ambiente de trabalho. Os fatores psicossociais, incluindo o estresse na situação de trabalho e o clima organizacional da empresa podem influenciar a eficácia das medidas preventivas. Os principais fatores de risco são: organização do trabalho, riscos psicossociais, riscos ambientais, fatores biomecânicos e fatores extra-trabalho (ZILLI, 2002).

Avaliação Clínica
 

 

O paciente portador de LER/DORT deve ter os locais onde há dor examinados como também ser submetidos ao exame físico global do sistema múculoesquelético, pois afecções músculoesqueléticas cervicais e lombares podem ser causas ou fatores agravantes da dor. Os sintomas e os padrões clínicos que expressam a LER/DORT são variados, freqüentemente vagos e muitas vezes inespecíficos, pois várias estruturas músculoesqueléticas e nervosas podem estar comprometidas isolada ou associadamente (CODO e ALMEIDA, 1998).

 

 

Tratamento e prevenção
 

 

O insucesso dos programas de terapêutica da LER/DORT deve-se a falha no diagnóstico das reais etiologias da dor, da incapacidade e dos fatores que contribuem ou agravam o quadro doloroso, sendo assim, a identificação das estruturas lesadas é importante para o melhor resultado no tratamento (CODO e ALMEIDA, 1998).
 

O tratamento depende sempre de um diagnóstico correto, da eliminação completa dos agentes causais e de uma adequada estratégia terapêutica medicamentosa, fisioterápica e, em alguns casos, cirúrgica (MOREIRA e CARVALHO, 2001).
 

O tratamento fisioterápico consiste em: termoterapia (calor profundo como ondas curtas ou ultra-som), eletroterapia, massagens, cinesioterapia, hidroterapia, órteses, RPG e outras técnicas. O fisioterapeuta deve levar em consideração tanto o estágio evolutivo da doença, como as respostas do paciente a tratamentos anteriores (PEROSSI, 2001). 
 

Apesar da abordagem terapêutica ampla, muitos pacientes permanecem sintomáticos, particularmente aqueles com diagnóstico de depressão, que estão insatisfeitos com seu trabalho, que acreditam ter adquirido “lesões” através das atividades desse trabalho e que estão envolvidos em alguma causa trabalhista.
 

O fisioterapeuta deve, no tratamento, ensiná-lo a relaxar, ir direcionando-o a tomar consciência de seu corpo. Orientá-lo a “escutar” os sintomas que lhe dizem o limite de seu corpo e a postura errada. Partindo dessa tese o paciente consegue melhorar seu desempenho pessoal, minimizar tensões musculares, tirar a atenção da dor e principalmente perceber suas limitações (PEROSSI, 2001).
 

A implementação de medidas preventivas é a melhor atitude a ser empregada, existe uma necessidade de melhorar a educação dos trabalhadores com condutas de orientação recomendações e de comunicações das experiências dos profissionais de saúde. É essencial que os trabalhadores tenham um bom ambiente de trabalho, com aperfeiçoamento técnico para realização de suas tarefas com respeito aos fatores ergonômicos e antropométricos, aos limites biomecânicos, à duração das jornadas e dos intervalos de trabalho, e com atitudes de reconhecimento de seus cargos superiores (MOREIRA e CARVALHO, 2001).

 

 

Conclusão
 

 

O enorme contingente de diagnósticos LER/DORT existente no nosso país atinge proporções consideradas epidêmicas. Conclui-se que ações dos vários segmentos da sociedade trabalhista sejam responsáveis pelos fatores que vêm sustentando esse fenômeno. 

Sendo assim, o mais importante é a conscientização dos empregadores em orientar seus empregados tanto na prevenção quanto na terapêutica dos distúrbios músculoesqueléticos. 


Referências

- AMERICANO, Maria José. Prevenção às LER/DORT- Site da Web: www.2.uol.com.br/prevler/o_que_eh.htm, Acessado em 23/08/2005.

 

- CODO, Wanderley; ALMEIDA, Maria C. de – LER – Lesões por Esforços Repetitivos. 4ª edição, 1998.

 

- COUTO, Ha – Como Gerenciar a Questão das LER/DORT,1998.

 

- MOREIRA, Caio; CARVALHO, Marco Antônio P.- Reumatologia Diagnóstico e Tratamento. 2ªedição, 2001.

 

- NAKACHIMA, Luis Renato –Lesões por Esforços Repetitivos ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - Site da Web: www.fundacentro.gov.br/CTN/forum_maos_ler_dort.htm. Acessado em 18/08/2005.

 

- PEROSSI, Sandra C.- LER/DORT - Abordagem Psicossomática na Fisioterapia. In: Revista Fisio &Terapia, nº27 – 2001.

 

- SANTOS, Eduardo Ferro; OLIVEIRA, Karine Borges –Gerenciamento Ergonômico. In: Revista FisioBrasil, nº66 Julho/Agosto, 2004.

 

- VIEIRA, Lucia Marinez – Artigo: Prevenção das LER/DORT em pessoas que trabalham sentados e usuários de computador, 1999. Site da Web: www.pclq.usp.br/jornal/prevencao.htm, acessado em 18/08/2005.

 

- ZILLI, Cynthia M. – Manual de Cinesioterapia /Ginástica Laboral, 2002.

Obs.:
- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo é de seu autor.
- Publicado em 16/01/06



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