A possível relação entre saúde, envelhecimento,
exercícios físicos, capacidade funcional e qualidade de vida têm sido objeto de
estudo de inúmeros trabalhos científicos atuais. Integrar todas essas variáveis
é o objetivo de vários pesquisadores que almejam encontrar o segredo de um
envelhecimento saudável.
Saúde não significa simplesmente a ausência de doenças. O termo saúde engloba
aspectos físicos, psíquicos e sociais. Portanto, o indivíduo deve interagir com
seu meio plenamente, necessitando para isso de uma capacidade funcional
preservada1. Entende-se por capacidade funcional a capacidade de realizar as
atividades de vida independentemente, incluindo atividades de deslocamento,
atividades de autocuidado, sono adequado e participação em atividades
ocupacionais e recreativas2. O conceito de qualidade de vida envolve
a capacidade de realizar as atividades da vida diária sem comprometer o
equilíbrio do organismo.
A qualidade de vida na terceira idade tem sido motivo de amplas discussões em
todo o mundo, pois existe atualmente uma grande preocupação em preservar a saúde
e o bem-estar global dessa parcela da população para que tenham um envelhecer
com dignidade.
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e a cada ano esse processo
se torna maior nos países em desenvolvimento podendo ocorrer um aumento de até
300% no número de pessoas idosas, especialmente na América Latina3.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), para países em desenvolvimento,
onde a expectativa de vida é menor, considera-se como idosos indivíduos com mais
de 60 anos1. Embora a grande maioria dos gerontes seja portador de pelo menos
uma doença crônica4, nem todos ficam limitados por essas doenças, e
muitos levam uma vida perfeitamente normal com suas enfermidades controladas.Um
idoso com uma ou mais doenças crônicas pode ser considerado saudável se
comparado a um outro com as mesmas doenças porém sem controle, com seqüelas
decorrentes e incapacidades associadas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera uma nação envelhecida quando a
proporção de pessoas com 60 anos atinge 7% com tendência a crescer 5.
Neste contexto, o Brasil é considerado uma nação populacionalmente envelhecida
porque 8,56% do total da população é formada por indivíduos com mais de 60 anos
6.
Segundo Clarck e Siebens7, o envelhecimento, uma parte integrante da
vida, é tipicamente acompanhado por alterações fisiológicas graduais, porém
progressivas, e por um aumento na prevalência de enfermidades agudas e
crônicas.É muito comum ocorrerem distúrbios cardiovasculares, pulmonares,
gastrintestinais, geniturinários, hematológicos, músculos-esqueléticos,
endócrinos e metabólicos, doenças infecciosas, distúrbios neurológicos,
psiquiátricos, cutâneos, oculares e do sono no idoso, o que resulta em mudanças
significativas em sua vida, levando-o até mesmo ao isolamento. Esse quadro de
alterações pode resultar em perda de função, que sem intervenção adequada e em
tempo hábil causa a institucionalização precoce dos idosos. Desse modo são
primordiais a promoção e a atenção à saúde do idoso, de maneira que englobe
medidas preventivas, restauradoras e reabilitadoras8.
Uma das mais importantes alterações que ocorre com o aumento da idade
cronológica é a diminuição da massa muscular esquelética, que gira em torno de
40%. Essa perda gradativa é conhecida como sarcopenia, termo genérico que indica
a perda da massa, força e qualidade do músculo esquelético e que tem um impacto
significante na saúde pública pelas suas bem reconhecidas conseqüências
funcionais9. A força muscular é a adaptação funcional que sempre
acompanha os níveis de massa muscular, sendo importante no dia-a-dia de todas as
pessoas para a realização das mais diversas tarefas, em especial no idoso, pois
geralmente este é um sedentário que perdeu a aptidão física geral. Recentemente
documentou-se também a importância da força muscular para manter a homeostase e
a hemodinâmica na vida diária10,11. A perda de força muscular é a
principal responsável pela deterioração na mobilidade e na capacidade funcional
do indivíduo que está envelhecendo9.
Vários estudos mostraram que ocorre diminuição das fibras tipo II (rápidas ou
fásicas), tanto em tamanho quanto em quantidade, enquanto a atrofia das fibras
tipo I (lentas ou tônicas) ocorre em menor intensidade. Essas alterações na
estrutura muscular poderiam de certa forma explicar o declínio funcional que
ocorre no envelhecimento, já que a força de um músculo está diretamente
relacionada ao seu tamanho, área de secção transversa, distribuição dos tipos de
fibra muscular e quantidade de unidades motoras ativadas9,12,13.
Outra alteração fisiológica do envelhecimento é a perda de massa mineral óssea.
Essa perda atinge tanto homens quanto mulheres, porém ocorre mais precocemente
nestas últimas, iniciando por volta dos 45 anos numa taxa de 1% ao ano contra
0,3% em homens a partir dos 50 anos. Obviamente fatores nutricionais, hormonais,
genéticos e níveis de atividade física interferem nessa perda e não o processo
de envelhecimento somente9.
A intervenção pelos exercícios se constitui em uma medida eficaz para minimizar
os efeitos das alterações fisiológicas decorrentes do processo de
envelhecimento. Um idoso frágil e descondicionado, com limitações de força,
equilíbrio e resistência, encontra dificuldades para realizar as mais simples
atividades da vida diária como banhar-se e vestir-se; além de estar mais
susceptível a quedas que podem resultar em fraturas e conseqüente imobilidade.
Muitos dos déficits advindos com o avanço da idade são reversíveis, podendo o
idoso melhorar sua capacidade funcional e autonomia, pela inserção do exercício
físico em sua rotina diária1.
O exercício físico na terceira idade pode trazer benefícios tanto físicos, como
sociais e psicológicos contribuindo para um estilo de vida mais saudável dos
indivíduos que a praticam14. De acordo com Santarém15, alguns dos efeitos
salutares do exercício físico são: o aumento do HDL-colesterol; a redução dos
triglicerídeos; redução da pressão arterial e da tendência à arritmia pela
diminuição da sensibilidade à adrenalina; redução da agregação plaquetária e
estímulo a fibrinólise; aumento da sensibilidade das células à insulina;
estímulo ao metabolismo dos carboidratos, estímulo hormonal e imunológico;
redução da gordura corporal devido ao maior gasto calórico e tendência à
elevação da taxa metabólica pelo aumento da massa muscular. Sendo assim, o
exercício físico atua na profilaxia de doenças melhorando os fatores de risco
para o desenvolvimento de diversas patologias.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME) e Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) o exercício físico regular melhora
a qualidade e expectativa de vida do idoso beneficiando-o em vários aspectos
principalmente na prevenção de incapacidades16.
A prescrição de exercícios para o idoso é desafiante porque há muitas questões
envolvidas, entre elas as clínicas e as psicológicas. Dessa forma se faz
necessária uma avaliação geriátrica abrangente que contemple todos os aspectos
inseridos no envelhecimento17. A escolha do exercício físico para
pessoas idosas também é complexa pois muitas atividades que poderiam ser
prazeirosas para a pessoa são inviáveis devido à perda de aptidão decorrente da
idade avançada e do sedentarismo15.
Além do prazer, outros aspectos como a eficácia, a segurança e a motivação,
devem ser levados em consideração pelos profissionais que atuam na geriatria. É
interessante buscar caminhos que mostrem a real melhora da qualidade de vida dos
gerontes18.
Na terceira idade os exercícios que atuam revertendo perdas como a da massa
óssea, muscular e força, são os mais eficazes já que contribuem para uma maior
autonomia funcional. O baixo risco de lesões, controle de freqüência cardíaca e
pressão arterial são fatores que tornam certos exercícios seguros, portanto
preferíveis nesta faixa etária. Por fim uma sensação agradável e de bem-estar
deve envolver o indivíduo pra que este se sinta motivado a progredir com os
exercícios15.
Segundo a SBME e SBGG, o programa ideal de exercícios físicos para os idosos
deve durar de 30 a 90 minutos, se possível todos os dias da semana, incluindo
exercícios aeróbicos, de força muscular, de flexibilidade e equilíbrio16.
A fisioterapia, cujo objetivo de estudo é principalmente o movimento humano, vem
colaborar lançando mão de conhecimentos e recursos fisioterápicos, com o intuito
de melhor compreender os fatores que possam acarretar perda ou diminuição da
qualidade de vida e bem-estar nos idosos1. Dessa forma, a fisioterapia
geriátrica é uma área que merece atenção e que é importantíssima no processo de
envelhecimento, podendo o fisioterapeuta contribuir, além da reabilitação, na
conscientização da população idosa exercendo seu papel de agente promotor de
saúde e colaborar para o envelhecimento bem sucedido.
REFERÊNCIAS
1. PAPALÉU NETTO, Matheus.Gerontologia: A velhice e o envelhecimento em visão
globalizada. São Paulo: Atheneu, 2002.
2. JARDIM, José Roberto; RATTO, Octávio Ribeiro; DAL CORSO, Simone. Função
Pulmonar. In: TARANTINO, Affonso Berardinelli. Doenças Pulmonares. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. cap. 6, p. 113-121.
3. TRUELSEN, Thomas; BONITA, Ruth; JAMROZIK, Konrad. Surveillance of stroke: a
global perspective. International Journal of Epidemiology. Great Britain, v.30,
p. S11-S16, mar. 2001.
4. RAMOS, Luiz Roberto. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em
idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso São Paulo. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/csp/v19n3/15882.pdf>. Acesso em: 07 set. 2003.
5. ORGANIZATION WORLD HEALTH (WHO). Department of noncommunicable disease.
Prevention and Health Promotion (NPH). About Ageing and Life Course. Disponível
em: <http://www.who.int/hpr/ageing/index.htm>. Acesso em: 24 out. 2003.
6. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico
2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/
populacao/pop_Censo2000.pdf>. Acesso em: 28 set. 2003.
7. CLARK, Gary S.; SIEBENS, Hilary C. Reabilitação Geriátrica. In: DELISA, Joel
A.; GANS, Bruce M. Tratado de Medicina de Reabilitação: Princípios e Práticas.
São Paulo: Manole, 2002. cap. 39, p. 1013-1047.
8. IORIS, Mairele Nicolodi. Fisioterapia no Abrigo Bezerra de Menezes: uma
abordagem da Fisioterapia na terceira idade. Estudos. Goiânia, v.30, n.2, p.
385-397, fev. 2003.
9. MATSUDO, Sandra Mahecha; MATSUDO, Victor Keihan Rodrigues; NETO, Turíbio
Leite de Barros. Impacto do envelhecimento nas variáveis antropométricas,
neuromotoras e metabólicas da aptidão física. Revista Brasileira Ciência e
Movimento. Brasília, v.8, n.4, p. 21-32, set. 2000.
10. PEREIRA, Alan Cláudio S. et al. Os efeitos do treinamento com pesos no
sistema cardiopulmonar em idosos com idade entre 60 e 80 anos. Revista Digital
Vida & Saúde. Disponível em: <http://www.saudeemmovimento.com.br/revista/artigos/
vida_e_saude/v2n1a1.pdf>. Acesso em: 15 set. 2003.
11. SANTARÉM, José Maria. Atualização em exercícios resistidos: conceituações e
situação atual. Disponível em:
<http://www.saudetotal.com/saude/musvida/exresist.htm>. Acesso em: 15 set. 2003.
12. KISNER, Carolyn; COLBY, Lynn Allen. Exercícios Resistidos. In:______.
Exercícios Terapêuticos Fundamentos e Técnicas. São Paulo: Manole, 1998. cap.3,
p. 55-109.
13. LEMOS, Rafael Raposo. Intensidades de Treinamento e seus Respectivos Ganhos
de Força para Indivíduos de Terceira Idade.Revista Digital Vida & Saúde.
Disponível em:http://www.saudeemmovimento.com.br/revista/artigos/vida_e_saude/v2n1a6.pdf>.
Acesso em: 18 set. 2003.
14.CANAVÓ, Alice. Atividade Física para a Terceira Idade. Informe Phorte. São
Paulo, ano 3, n. 9, p. 18, abril/maio/junho, 2001.
15.SANTARÉM, José Maria. Promoção da saúde do idoso: a importância da atividade
física. Disponível em: <http://www.saudetotal.com/saude/musvida/idoso.htm>.
Acesso em: 29 ago. 2003.
16. NÓBREGA, Antônio Cláudio Lucas da et al. Posição Oficial da Sociedade
Brasileira de Medicina do Esporte e Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso. Disponível em : <http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudos_exibe.asp?cod_noticia=480
>. Acesso em: 08 fev. 2004.
17. SHANKAR, Kamala; RANDAL, Ken; NAYAK, Nirmala N. Exercícios para idosos. In: SHANKAR, Kamala. Prescrição de Exercícios. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2002. cap.22, p. 341-352.
18. FREITAS, Rafael de; CONSERVANI, Wilton. Treinamento de Força para Idosos.
Disponível em: <http://www.fisiculturismo.com.br/artigos/nacionais/t-d-f-p-i.shtml>.
Acesso em: 15 set. 2003.
19. SANTARÉM, José Maria. Atualização em exercícios resistidos: ativação das
fibras musculares. Disponível em: <http://www.saudetotal.com/saude/musvida/ativa.htm>.
Acesso em: 15 set. 2003.
|