Referência  em  FISIOTERAPIA  na  Internet

 www.fisioweb.com.br 


Trabalho realizado por:
- Mônica Costa Barros *
- Suely Maria Satoko Inumaru Moriya **


Contato:
monicacostab@yahoo.com.br

* Fisioterapeuta, Formação em RPG/RS, Especializanda em Acupuntura..

** Fisioterapeuta, Especialista em Acupuntura e Ortopedia pela Universidade Estadual de Goiás, Supervisora de estágio da UEG e UCG


APLICAÇÃO DA POMPAGE PARA MELHORA DA QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES DEPRESSIVOS

APPLICATION OF THE POMPAGE FOR IMPROVEMENT OF THE QUALITY OF LIFE OF DEPRESSIVE PATIENTS

RESUMO

Atualmente o transtorno depressivo é reconhecido com um problema de saúde pública devido a sua alta prevalência e impacto psicossocial. Interferindo na qualidade de vida destes indivíduos e correlacionando-se com várias comorbidades clínicas. O objetivo deste estudo é mostrar que a fisioterapia, através da pompage, pode melhorar a qualidade de vida destes pacientes. Foram avaliados 10 indivíduos com idade média igual a 54 anos (± 9,99 anos), no Caps – Vida, através da aplicação dos questionários: SF- 36 e BDI. Os mesmos foram divididos em dois grupos: controle (grupo C) e experimental (grupo P). No grupo experimental foi aplicado a pompage, num total de dez sessões, sendo avaliados, também, pela cirtometria. Considerando a média inicial e a média final dos questionários foram obtidos os seguintes achados: no componente físico do SF-36, a variação do grupo P foi de 68,40 (p = 0,043), enquanto a do grupo C foi de - 40,60 ( p >0,05); no componente mental, o grupo P obteve 104,10 (p = 0,045) e o grupo C obteve -24,96 (p > 0,05). No BDI obtivemos uma variação de -6 pontos (p > 0,05) para o grupo P; e 0,4 pontos (p > 0,05) para o grupo C. A cirtometria demonstrou melhora da expansibilidade torácica e indícios de mudança do padrão respiratório. Assim, concluímos que a pompage teve eficácia para a melhora da qualidade de vida de indivíduos com transtorno depressivo, facultando ao fisioterapeuta a sua inserção à equipe multidisciplinar da saúde mental.

PALAVRAS-CHAVE: Depressão. Qualidade de Vida. Fisioterapia.


ABSTRACT

Currently the depressive upheaval is recognized with a problem of public health which had its high prevalence and psycho-social impact. Intervening with the quality of life of these individuals and correlating themselves with some clinical pathologys. The objective of this study is to show that the physical therapy, through pompage, can improve the quality of life of patients. The 54 years had been evaluated 10 individuals with equal average age (± 9,99 years), admitted for the Caps - Life, through the application of the questionnaires: SF-36 and BDI. The same ones had been divided in two groups: control (group C) and experimental (group P). In the experimental group of pompage in a total of ten sessions, being evaluated was applied, also, for the chest circunference. Considering the initial average and the final average of the questionnaires the following findings had been gotten: in the physical component of the SF-36 the variation of group P was of 68,40 (p = 0,043), while of group C was of - 40,60 (p > 0,05); in the mental component, group P got 104,10 (p = 0,045) and group C got -24,96 (p > 0,05). In the BDI we got an initial variation of -6 points (p > 0,05) for group P; and 0,4 points (p > 0,05) for group C. The chest circunference surveyed  it demonstrated to improvement of the chest expanding and indications of change of the respiratory standard. Thus, we conclude that pompage had effectiveness for the improvement of the quality of life of individuals with depressive upheaval, authorizing to the physical therapist its insertion to the team to multidiscipline of the mental health.

KEY-WORDS: Depression. Quality of Life. Physical therapy.



INTRODUÇÃO

Atualmente o transtorno depressivo é reconhecido com um problema de saúde pública, devido a sua alta prevalência e impacto psicossocial. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a depressão é atualmente a doença psiquiátrica mais diagnosticada: ocupa o quarto lugar entre os maiores problemas de saúde do Ocidente e é a segunda causa de invalidez (1).

Tem-se comprovado que os transtornos mentais ocasionam: redução da produtividade, conflitos inter-pessoais, aumento do custo de vida (pela freqüência com que se associam a traumas) – tendo assim grande importância social e econômica. Estima-se que um trabalhador perde, em média, um ano e meio de trabalho durante a vida, devido a doenças provocadas pelo estresse (2).

Segundo a OMS, assinala O’ Sullivan (3) a condição de saúde não se restringe à ausência de doença e enfermidades, mas compreende um completo bem-estar físico, mental e social. Logo, temos outro conceito muito importante que deve ser levado em conta que é qualidade de vida.

Qualidade de vida, segundo o Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde (4), foi definido como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.

A depressão definida como um estado emocional caracterizado por grande tristeza, sentimento de desvalia e culpa, abstenção de contato com outras pessoas e perda de sono, apetite, desejo sexual, interesse e prazer pelas atividades habituais pode ser considerada altamente incapacitante interferindo ativamente na mesma (1, 5,6).

A ligação entre mente e corpo encontrou grande reforço na pesquisa neurológica por meio dos trabalhos de vários cientistas, entre eles Antônio Damásio, para quem o organismo tem algumas razões que a razão tem que utilizar. Concluindo que existimos e depois pensamos e só pensamos na medida em que existimos, visto o pensamento ser, na verdade causado por estruturas do ser (7).

Sousa (8) cita que a postura ereta proporciona uma sensação de bem-estar. A mesma alegria que se sente quando se tem uma determinada destreza, sente-se também quando, conscientemente, se em pé, de maneira adequada. Saber que se sabe ficar de pé de maneira correta que se pode e se está em pé corretamente, dá um sentimento de autoconfiança e equilíbrio.

O que nos conduz a curiosas conclusões como: a postura afeta seu pensamento, pois esta propicia o melhor estado de espírito. Sendo o contrário também verdadeiro, já que, de modo geral na depressão encontram-se presentes queixas somáticas devido a um mecanismo de defesa denominado deslocamento, ou seja, somatização, onde o cérebro desloca o que é insuportável do ponto de vista psíquico para o corpo (2,9). Daí a possibilidade de se utilizar procedimentos fisioterapêuticos para promover transformações de ordem psíquica.

Os transtornos psicológicos podem assumir, também, forma física pela conversão, em que os sintomas são demonstrados em situações estressantes permitindo ao indivíduo evitar alguma atividade ou responsabilidade ou receber atenção pela qual anseia. O termo conversão, deriva do trabalho de Freud, definindo-o como a energia de um instinto reprimido que seria desviada para canais sensório-motores, causando bloqueios funcionais, surgindo os sintomas físicos (5). Wilhelm Reich (2,10), também, compartilha dessa idéia e desenvolveu uma teoria de que as pessoas desenvolvem couraças musculares que impedem o fluxo natural de energia fluir por todo o corpo, surgindo a bioenergética. Wilhelm Reich (1979) considerava que a experimentação plena dos sentimentos positivos somente ocorreria se o indivíduo lidasse, inicialmente, com suas emoções negativas (14) desenvolvendo a teoria das couraças musculares que impedem o fluxo natural de energia por todo o corpo. Através de tensões musculares, o indivíduo consegue alterar sua respiração fazendo com que não experimente suas emoções em seu ventre, diminuindo sua “dor”, sua rejeição e frustração (15, 16).

Há, ainda, explicações biológicas demonstrando a reação do corpo ao estresse psicológico provocado pela depressão, dentre as principais reações biológicas envolvem ativação do sistema nervoso simpático e do eixo hipotálamo-pituitária-suprarrenal. Onde as catecolaminas são liberadas dos nervos e da medula suprarrenal ocasionando secreção de corticotropina pela pituitária. A corticotropina causa em seguida liberação de cortisol pelo córtex das glândulas suprarenais (5).

O cortisol em excesso leva a deficiência do sistema imunológico, principalmente na diminuição de imununoglobina A, que servem como primeira linha de defesa. Além, de reduzir a função de receptores de serotonina, o hormônio da alegria, e debilitar a função de receptores noradrernérgicos, causando distúrbios cognitivos e emocionais (5,11,12). Logo, percebemos uma íntima relação entre sistema nervoso central e autônomo ao somático, ou seja, entre mente e corpo causando desordens mútuas. Entre outras alterações como aumento das glândulas adrenais, úlceras hemorrágicas, lesões no hipocampo cerebral e anormalidades em outras regiões cerebrais, demonstrados em estudos realizados por Hans Seyle, que comprovadamente se relacionam à depressão (12, 17).

Em todo processo de estresse temos sempre, o sistema límbico elaborando a vivência emocional, o córtex elaborando a linguagem intelectual, e ambos os processos sendo transformados em uma linguagem orgânica. Da mesma forma Phillips (1987), pesquisando o comportamento de evitação de dor e os processos cognitivos envolvidos nesse comportamento, como expectativas sobre o limiar de dor e lembranças de experiências dolorosas passadas, constatou a influência desses fatores na postura dos pacientes. Influência esta, também, percebida por Rosa et al, que em seu trabalho propôs a relação entre estresse e o equilíbrio, por o primeiro diminuir a capacidade perceptiva devido à redução da concentração (18, 19).

Para Godelieve Denys-Struyf (G.D.S), fáscia é um elemento de ligação entre o superficial e o mais profundo, entre os músculos contidos em suas aponevroses, entre os músculos e o esqueleto, entre os músculos e as vísceras e entre estas e o esqueleto (20).

A fáscia não é apenas um tecido mecânico de ligação, mas também, um imenso receptor sensitivo porque encerra milhares de tenso-receptores (órgão de golgi e fibras Ib) que reagem à mínima tensão e permitem a propriocepção. Além de sua mobilidade, seus deslizamentos contínuos sobre os tecidos vizinhos, ser o motor para a circulação lacunar, auxiliando o retorno venoso (13).

Sabe-se também que quando o músculo é sobrecarregado por alguma razão, a fáscia absorve parte dessa carga, pois é submetida a um esforço contínuo e excessivo, tornando-se mais densa, mais curta e perdendo elasticidade e plasticidade, e assim o corpo muda, gradativamente, sua estrutura (21).

A técnica da pompage é realizada em três tempos. O primeiro tempo é o "tensionamento" do segmento. O terapeuta alonga lenta, regular e progressivamente a fáscia até o limite da elasticidade fisiológica. O segundo tempo é o tempo de "manutenção da tensão", em que o terapeuuta retém a fáscia no limite do seu alongamento fisiológico por 15 a 20 segundos. Sendo o terceiro tempo, o "tempo de retorno" em que se permite a fáscia deslizar lentamente em direção ao seu ponto de origem. Porém, para conseguir o alongamento do tecido fascial o tempo de retorno se faz com apenas 2/3 do tempo de tensionamento, feito inicialmente, e prossegue todas as fases novamente por no mínimo 10 repetições. Tomando sempre o cuidado para que o terapeuta não perca o contato com a pele, não ultrapasse os limites fisiológicos do tecido e realize toda a manobra lenta e progressivamente, acompanhada de um bom padrão da respiração (13).

A respiração, segundo G.D.S, é muito importante se desejamos obter um relaxamento das tensões, privilegiando o tempo expiratório, pois este favorece o aumento da concentração de gás carbônico no sangue, que diminuirá o tônus muscular. Além, do diafragma ser o centro acumulador de tensão do corpo e estar ligado a todas as cadeias fasciais, promovendo rotação externa nas cinturas durante a inspiração e relaxamento ou até mesmo rotação interna dos membros na expiração forçada, favorecendo o alongamento da fáscia durante a pompage. (20)

A pompage é uma técnica de terapia manual, que implica, portanto, em tocar o paciente, advinda da osteopatia, agindo diretamente sobre o tecido conjuntivo (fáscia) produzindo benefícios à circulação, musculatura e articulação, além, do efeito calmante (13). Podendo ser aplicada em pacientes depressivos com objetivo de ampliar a percepção de si mesmo, aumentar a afetividade, promover a melhora da circulação e o relaxamento muscular a fim de auxiliar a produção da emoção do indivíduo e, consequentemente, melhorar sua qualidade de vida.

As descobertas científicas no campo dos neurotransmissores cerebrais têm ampliado e desenvolvido o uso de medicamentos antidepressivos. Entretanto, Thase e Ninam (2002) enfatizam que apesar da grande amplitude das substâncias antidepressivas disponíveis no mercado, nenhuma delas têm eficácia ideal, até mesmo por causa dos diversos efeitos colaterais que produzem (1, 22).



MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi aplicado em 10 indivíduos com diagnóstico de depressão, separados em dois grupos iguais, denominados grupo C e grupo P; o primeiro, como grupo controle, e o segundo como grupo experimental. E, aplicado questionários (SF-36 Healht Short-Form e Beck), além do instrumento cirtométrico e a entrevista diária realizada pela pesquisadora, com o objetivo de constatar e discutir as referências bibliográficas sobre a relação corpo-mente e suas implicações em torno da depressão e, principalmente, avaliar a aplicação da pompage a fim de melhorar a qualidade de vida dos mesmos.

Participaram do estudo os usuários do CAPS, sem distinção de sexo, na faixa etária de 30 a 70 anos e que possuíam como diagnóstico, em seu prontuário, o transtorno depressivo, excluindo aqueles que apresentavam como patologia associada doenças incapacitantes ou invalidantes, como, por exemplo, Alzheimer ou Parkinson. A pesquisadora em uma reunião inicial relatou todo o processo da pesquisa, e após ter sanado todas as indagações, os mesmos assinaram um termo de consentimento.

Os questionários foram aplicados em todos os indivíduos, antes e após o término do trabalho prático, sendo analisados através do teste t de Student e correlação de person para a obtenção dos resultados.

A fase de coleta de dados ocorreu durante os meses de março à maio de 2006.



RESULTADOS

O estudo foi realizado com dez (10) voluntários com idade média de 54 anos (±9,99), divididos em dois grupos iguais em número, denominados grupo C (controle) e grupo P (experimental), assim distribuídos: no grupo P temos 40% (n=2) do sexo masculino e 60% (n=3) do sexo feminino, com idade média de 51,4 anos (± 7,70); no grupo C temos 100% (n=5) do sexo feminino, com idade média de 55,6 anos (± 9,99). A Tabela I, mostra a caracterização dos grupos estudados, no início do tratamento.

>> Tabela I. Caracterização dos grupos.
 

 

GRUPO P

(n=5)

GRUPO C

(n=5)

Idade**

51,4 anos

55,6 anos

 

Sexo

Fem

60% (n=3)

100% (n=5)

 

Masc

40% (n=2)

0%

 

Ativ. Prof.

Sim

20% (n=1)

40% (n= 2)

 

Não

80% (n=4)

60% (n=3)

 

 

 

Ativ. Fis.

Sim

20% (n=1)

80% (n=4)

 

Não

80% (n=4)

20% (n=1)

 

 

 

Tempo de tto

 

 

Até 6 meses

20% (n=1)

0%

6 meses a 1 ano

20% (n=1)

20% (n=1)

+ de 1 ano

60% (n=3)

80% (n=4)

 

 

 

Medicamento

Sim

80% (n=4)

100% (n=5)

 

Não

20% (n=1)*

0%

 

 

 

Patologia associada

 

 

Não

N=2

N=3

Ortopédica

N=2

N=0

Cardiovascular

N=2

N=2

Respiratória

N=2

N=0

 

 

 

BDI Inicial**

19,2

23,6


        *a paciente recusou tomar a medicação receitada; ** mediana.


Apesar da amostra ser pequena (n = 10), comparamos a média dos valores obtidos do questionário de Qualidade de vida Short Form (SF-36) no estudo com pacientes depressivos com a média da população brasileira, citada em literatura. Percebemos uma média significativamente (p< 0,05) baixa em seus componentes físico e mental, como demonstra a tabela abaixo.

 

 

  Pacientes Depressivos População Brasileira* t p

Componente
Físico

207,30 318 -4,698 0,001
Componente
Mental
178,15 313 -2,791 0,021

 


 

  CF AF Dor EGS Vit AS AE SM

Depressão
 
61,50 27,50 62,20 56,10 42,00 53,75 30,00 52,40


QV em Pop Geral
Brasil*
 

83,0 87,0 73,0 75,0 70,0 84,0 86,0 73,0

 

* FONTE: CICONELLI, 1999.

 

Na tabela III, observamos os resultados obtidos com o instrumento SF-36, comparando o início e o fim do trabalho prático do grupo P, observamos aumento das medianas em todos os domínios, além dos componentes físico e mental, caracterizando uma melhora da qualidade de vida do grupo (Graf. 1). Porém, não obtemos resultados estatisticamente significantes (p > 0,05) em seis (6) dos oito domínios do questionário. Havendo melhora da mediana nos domínios, com significância estatística (p < 0,05), referentes à dor e saúde mental, assim como os componentes físico e mental.

 



Tabela III. Domínios do SF-36 e componentes físico e mental do grupo P.

 

 

DOMÍNIOS

MÉDIA

DP

r

t

p

CF

 

Inicial

63,00

17,89

0,970

-1,500 

0,208 

Final

66,00

18,51

 

 

AF

 

Inicial

5,00

11,18

-0,514

-1,414

0,230

Final

30,00

32,60

 

 

DOR

 

Inicial

39,60

10,88

0,747

-4,720 

0,009 

Final

75,00

23,26

 

 

EGS

 

Inicial

48,60

20,56

 0,388

 

-0,574

 

0,597

Final

53,60

12,46

 

 

VIT

 

Inicial

34,00

25,10

 0,135

-1,857

0,137

Final

61,00

24,34

 

 

AS

 

Inicial

45,00

14,25

 0,422

-1,238

 

0,284

 

Final

60,00

29,84

 

 

AE

 

Inicial

 13,33

 29,81

 0,514

-2,746

0,052

Final

60,00

43,46

 

 

SM

 

Inicial

 42,40

 17,11

 0,426

 

-2,889

 

 

0,045

 

Final

72,00

24,17

 

 

CPF

 

 Inicial

 156,20

 44,84

 0,707

 

-2,923

 

 

0,043

 

Final

224,60

73,31

 

CPM

Inicial

 134,76

 46,56

 0,597

-2,871

0,045

Final

238,86

101,73

 

      Teste t Student para dados pareados.

 



Gráfico 1


Na Tabela IV, demonstramos o resultado do grupo C com o instrumento SF-36. E, observamos diminuição das medianas em seis (6) domínios do questionário (AF, DOR, EGS, AS, AE e SM), além dos componentes físico e mental, indicando uma queda da qualidade de vida do grupo (Graf. 2), pois esta não foi estatisticamente significante (p >0,05).


Tabela IV. Domínios do SF-36 e componentes físico e mental do grupo C.

DOMÍNIOS

MÉDIA

DP

r

t

p

CF 

Inicial

60,00

22,64

      0,821

-0,343

0,749

Final

62,00

20,19

 

 AF

 Inicial

 50,00

 25,00

0,366

0,232

0,828

Final

45,00

51,23

 

 DOR

Inicial

 84,80

20,81

 -0,188

 

1,456

 

 

0,219

 

Final

55,60

36,01

 

 EGS

 Inicial

 63,60

 28,16

 0,505

0,718

0,513

Final

55,20

23,91

 

 VIT

 Inicial

 50,00

16,58

 -0,162

 

-0,364

 

0,734

Final

56,00

30,29

 

 AS

Inicial

 62,50

 41,46

0,976

1,500

0,208

Final

55,00

33,77

 

 AE

 Inicial

 46,67

 38,01

 0,235

0,885

0,426 

Final

26,67

43,46

 

 SM

Inicial

62,40

 25,86

 0,846

 0,459

0,670

Final

59,20

29,18

 

 

CP F

 

Inicial

258,40

62,90

 0,754

1,379

0,240

Final

217,80

98,69

 

CP M

 Inicial

 221,56

 107,72

 0,728

0,705

0,519

Final

196,6

116,03

 

      Teste t Student para dados pareados.


Graf. 2


Através da escala de Beck (BDI) podemos constatar, na tabela V, queda na mediana do grupo P, comparando o momento inicial e momento final do estudo, enquanto o grupo C obteve aumento desta mediana, ambas não foram significativas estatisticamente (p > 0,05).


Tabela V. Médias do BDI.

 

BDI
INICIAL

DP

BDI
FINAL

DP

r

t

p

GRUPO P

19,2

7,59

13

6,12

0,618

2,258

0,087

GRUPO C

23,6

20,10

24

22,03

0,997

-0,343

0,749

     Teste t Student para dados pareados; r = pearson.

No grupo P, foi colhido os dados cirtométricos, no momento inicial e final do trabalho prático, e obtivemos diferenças nas medianas quanto a expansibilidade torácica comparando o início e fim do tratamento (Tabela VI), com significância estatística ( p < 0,05).

Tabela VI. Relação das médias cirtométricas no início e fim do tratamento.

 

axilar

XIFOIDEA

BASILAR

Insp*

Inicial

102,1

82,75

98,2

 

Final

102,3

95,5

97,3

 

 

 

 

Exp.*

Inicial

98,5

94,9

97,4

 

Final

100

93

95,3

 

 

 

 

r

INSP

0,999

0,983

0,984

 

EXP

0,987

0,981

0,980

 

p

 

INSP

 

0,001

 

0,003

 

0,002

 

EXP

0,002

0,003

0,004

   r = pearson, p = significância do teste t student; * mediana.

Na Tabela VII, observamos a relação inspiração – expiração, a fim de determinar o padrão respiratório do grupo P. Observamos que o padrão respiratório predominante, no momento inicial, era apical, devido a maior expansibilidade na região axilar em detrimento das demais. Enquanto, no final do tratamento, houve um início de mudança do padrão respiratório, obtendo maior expansibilidade nas regiões xifoidea e basilar, caracterizando um padrão respiratório misto (Graf. 3).

TabelaVII. Médias cirtométricas

                                             Inicial                                    final

Referência Cirtométricas

Insp.

Exp.

Insp-exp

Insp.

Exp.

Insp-exp

AXILAR

102,1

98,5

3,6

102,3

100

2,3

XIFOIDEA

82,75

94,9

0,9

95,5

93

2,4

BASILAR

98,2

97,4

0,8

97,3

95,3

2

 



Graf. 3

 

DISCUSSÃO

O estudo demonstrou que a qualidade de vida de indivíduos apresentando Transtorno Depressivo é muito inferior, comparado a da população brasileira. Através do Questionário SF-36, que divide-se em dois componentes – físico e mental, percebemos diminuição da média em ambos, principalmente no componente mental. Observando, também, grande discrepância dos domínios relacionados ao aspecto físico e emocional, os quais determinam a influência da falta de saúde e problemas emocionais no trabalho e outras atividades diárias. Correlacionando-se com a falta de produtividade e ausências nas atividades profissionais, sendo uma das maiores causas de invalidez (1, 2).

Quanto às hipóteses que poderiam justificar o baixo nível de qualidade de vida no grupo estudado, a saúde mental merece atenção especial. Neste estudo, a questão da “saúde mental” foi abordada de duas formas: inicialmente pela escala de Beck, onde a média foi 21,3 (± 3,25), acusando depressão moderada a grave (23). Outra maneira foi através do SF-36, onde no decorrer da aplicação do questionário as questões que determinam o componente “saúde mental” não foram abordadas de forma objetiva, pois relacionava os sintomas da depressão com o fator “tempo”. Fator este, comprometido nesses indivíduos devido à inatividade e perda de interesse pelas coisas, além das repercussões neuropsicológicas sobre a memória (17). Demonstrando uma média inferior comparada a da população brasileira, porém não foi significativo estatisticamente (p > 0,05).

Um aspecto interessante notado no estudo foi que o componente físico e o componente mental, estão significativamente correlacionados (pearson = 0,815) confirmando o que a literatura tem buscado evidenciar com a psicossomática, entre outras ciências como, a psiconeuroendocrinologia.

Contudo, o objetivo principal do estudo foi analisar a influência da terapia manual, mais especificadamente a pompage, por trabalhar a fáscia, cujo tecido pode ser considerado como a estrutura mais global do corpo, sobre a qualidade de vida dos pacientes depressivos. Para isso, analisamos os domínios do SF-36, antes e após a aplicação da pompage, observando aumento de todas as médias no final do estudo, caracterizando uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes. Em contraste com o grupo controle, que houve diminuição das médias na maioria dos domínios do SF-36 indicando queda na qualidade de vida dos indivíduos deste. Porém, não pode-se afirmar tal, por não ter variância significativa.

No grupo experimental, tivemos dois domínios com variância significativa (p < 0,05) através do tratamento, e são eles: dor e saúde mental.

O aspecto da dor é um fenômeno multidimensional que permeia questões físicas, emocionais, culturais e ambientais, e de acordo com os dados colhidos na amostra está intimamente relacionado à saúde mental (pearson = 0,788). Confirmando os relatos de Freud, observados em seus trabalhos, sobre o fenômeno da conversão e somatização, onde o homem é capaz de levar ao corpo todo o seu sofrimento psíquico (2, 5, 24, 25). A dor pode ser também devido a fatores físicos, todavia a correlação da capacidade funcional e dor é bem menos significativa (pearson = 0,521) em nossa amostra estudada, além de não apresentar patologias associadas relevantes à associação das mesmas com o domínio “dor”.

A indicação da melhora da dor com o tratamento da pompage, atende as nossas expectativas quanto a provável utilização de procedimentos fisioterapêuticos, lembrando que a fisioterapia trabalha essencialmente o aparelho músculo-esquelético, para a melhora de queixas somáticas, já observada a tempos, a relação entre o corpo e mente, através dos trabalhos de Freud, Reich, Lowen, Keleman, entre outros.

Esta relação entre corpo e mente, tão comentada, mas, ainda, desacreditada por muitos, foi aqui reforçada em nossos estudos com a melhora da saúde mental geral através de um trabalho corporal, proporcionando, segundo relatos do grupo experimental, “clareza mental”; representadas pela diminuição da ansiedade, melhora da percepção corporal e temporal, controle emocional e disposição.

O fato do resultado da escala de Beck não ser tão significativo (p > 0,05), apesar de termos conseguido uma queda na média do score, quanto o instrumento SF-36 nos surpreende, mas não nos desanima. Pois uma série de fatores podem estar relacionados com tal resultado, como a dificuldade com a assiduidade deles em relação ao tratamento, problemas emocionais com familiares, faltas por motivo de saúde, além de serem em sua maioria casos crônicos para um curto período de tratamento.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar das dificuldades encontradas na pesquisa como a escassez de pesquisas científicas com rigor metodológico para a comprovação da relação corpo -mente, ou seja, na influência da intervenção corporal sobre os aspectos mentais do homem; além da dificuldade encontrada para adquirir uma amostra maior e melhor controlada; como, também, aplicar instrumentos avaliativos de maneira objetiva, devido o quadro clinico do transtorno depressivo associado ao medo de discriminação e negação da patologia. Os resultados foram satisfatórios com relação ao emprego da pompage com o objetivo de melhorar a qualidade de vida daqueles que sofrem com a depressão.

Atualmente, a saúde mental vem se ampliando em conhecimento e serviço à comunidade, e o exemplo disso são as unidades de saúde especializadas, denominadas CAPS, onde oferece toda a assistência médica e psicológica aos usuários, como também aos familiares.

Dentro destas unidades e em qualquer outro serviço de saúde mental, não encontramos o profissional de Fisioterapia como membro da equipe multidisciplinar. O resultado deste trabalho vem discutir sobre a relação do físico e o emocional interferindo na saúde do indivíduo, sendo esta bem aceita pela OMS, possibilitando a inserção do fisioterapeuta nesta especialidade da saúde, desde que deixemos de lado o empirismo para, então, comprovarmos por meio de pesquisas científicas.

Verifica-se, então, a necessidade de realização de maiores estudos a partir deste trabalho com o objetivo de coletar maiores dados e traçar o perfil desta população para que possamos avaliar e melhor traçar objetivos dentro da conduta fisioterápica.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

1. Maldonato M. Os aposentos vazios da depressão. Rev Viver mente & cérebro, ano XIV, n.160, maio 2006. p.38-45.

2. Marinho A, Fiorelli JO. Psicologia na fisioterapia. São Paulo: Atheneu, 2005.

3. O’Sullivan SB. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento. 2ª ed. São Paulo: Manole, 1993.

4. Fleck MA et al. Aplicação da versão em português do instrumento de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL). Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 33, n.2, p. 178-183, 2000.

5. Davison GC, Neale JM. Psicologia do Comportamento Especial. 8ºed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.

6. Kaplan HI, Sadock BJ. Manual de Psiquiatria Clinica. 2ºed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

7. Damásio AR. O erro de Descartes. São Paulo: Companhia das letras, 1996.

8. Rocha AS, Monteiro TC. Relação entre paciente depressivo e o aumento da cifose torácica: uma abordagem fisioterapêutica. Goiânia: UEG, 2002.

9. Almeida OD, Forlenza OV. Depressão e demência no idoso. São Paulo: Lemos, 1997.

10. Clay JH. Massoterapia Clínica: Integrando anatomia e tratamento. São Paulo: Manole, 2003.

11. Kiecolt-Glaser JK , Glaser R. Stress and imune function in humans. In:Ader,R. Psychoneuroimunnology. 2ºed. New York: Academic Press, 1991 p.849-64.

12. Straub RO. Psicologia da saúde. Porto Alegre: Artmed, 2005.

13. Bienfait M. Fáscias e pompages: Estudo e tratamento do Esqueleto Fibroso. São Paulo: Summus, 1999.

14. Fadigan J, Frager R. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1986.

15. Keleman S. Anatomia emocional. São Paulo: Summus,1992.

16. Lowen A. O corpo em depressão: as bases biológicas da fé e da realidade. 5ºed. São Paulo: Summus, 1983.

17. Rozenthal M, Laks J, Engelhardt E. Aspectos neuropsicológicos da depressão. Rev Psiquiatria Rio Grande do Sul, v. 26, n. 2, Porto Alegre maio/ago, 2004. [Scielo]

18. Vasconcelos E G. O modelo psiconeuroendocrinológico do stress. In: Seger L. Psicologia e Odontologia. São Paulo: Santos, 1992.

19. Rosa, GMM et al. Análise da influência do estresse no equilíbrio postural. Rev Fisioterapia Brasil, v. 5 n. 1, janeiro/fev 2004, p. 50-5.

20. Denys-Struyf G. Cadeias musculares e articulares: O método GDS. São Paulo: Summus, 1995.

21. Motta RC. Avaliação da imagem corporal durante o processo do Rolfing. São Paulo: Campinas, 2003. [Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Estadual de Campinas (Faculdade de Educação Física)

22. Costa EMS. Psicoterapia psicodramática focal: análise qualitativa e quantitativa o transtorno depressivo maior. São Paulo: 2005.

23. Cunha JA. Manual da versão em português das escalas de Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001, 171p.

24. Beers MH. The Merck Manual Home Edition Online as the People’s Voice for The Best Health Web site. Merck Research Laboratories: N.J, 2004-2005. <www.merck.com/msd43/m_manual/mm_sec7_82.htm> acessado em: 06/05/2006.

25. Silva MAM. Migração e adoecimento. Campinas: 2003. Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. [UNICAMP]

 

Obs.:
- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo são de seus autores.
- Publicado em 12/11/06

 


© 2006 - World Gate Brasil Ltda

Todos os Direitos Reservados