RESUMO
Atualmente o transtorno depressivo é reconhecido com um problema de saúde
pública devido a sua alta prevalência e impacto psicossocial. Interferindo na
qualidade de vida destes indivíduos e correlacionando-se com várias
comorbidades clínicas. O objetivo deste estudo é mostrar que a fisioterapia,
através da pompage, pode melhorar a qualidade de vida destes pacientes. Foram
avaliados 10 indivíduos com idade média igual a 54 anos (± 9,99 anos), no Caps
– Vida, através da aplicação dos questionários: SF- 36 e BDI. Os mesmos foram
divididos em dois grupos: controle (grupo C) e experimental (grupo P). No
grupo experimental foi aplicado a pompage, num total de dez sessões, sendo
avaliados, também, pela cirtometria. Considerando a média inicial e a média
final dos questionários foram obtidos os seguintes achados: no componente
físico do SF-36, a variação do grupo P foi de 68,40 (p = 0,043), enquanto a do
grupo C foi de - 40,60 ( p >0,05); no componente mental, o grupo P obteve
104,10 (p = 0,045) e o grupo C obteve -24,96 (p > 0,05). No BDI obtivemos uma
variação de -6 pontos (p > 0,05) para o grupo P; e 0,4 pontos (p > 0,05) para
o grupo C. A cirtometria demonstrou melhora da expansibilidade torácica e
indícios de mudança do padrão respiratório. Assim, concluímos que a pompage
teve eficácia para a melhora da qualidade de vida de indivíduos com transtorno
depressivo, facultando ao fisioterapeuta a sua inserção à equipe
multidisciplinar da saúde mental.
PALAVRAS-CHAVE: Depressão. Qualidade de Vida. Fisioterapia.
ABSTRACT
Currently the depressive upheaval is recognized with a problem of public
health which had its high prevalence and psycho-social impact. Intervening
with the quality of life of these individuals and correlating themselves with
some clinical pathologys. The objective of this study is to show that the
physical therapy, through pompage, can improve the quality of life of patients.
The 54 years had been evaluated 10 individuals with equal average age (± 9,99
years), admitted for the Caps - Life, through the application of the
questionnaires: SF-36 and BDI. The same ones had been divided in two groups:
control (group C) and experimental (group P). In the experimental group of
pompage in a total of ten sessions, being evaluated was applied, also, for the
chest circunference. Considering the initial average and the final average of
the questionnaires the following findings had been gotten: in the physical
component of the SF-36 the variation of group P was of 68,40 (p = 0,043),
while of group C was of - 40,60 (p > 0,05); in the mental component, group P
got 104,10 (p = 0,045) and group C got -24,96 (p > 0,05). In the BDI we got an
initial variation of -6 points (p > 0,05) for group P; and 0,4 points (p >
0,05) for group C. The chest circunference surveyed it demonstrated to
improvement of the chest expanding and indications of change of the
respiratory standard. Thus, we conclude that pompage had effectiveness for the
improvement of the quality of life of individuals with depressive upheaval,
authorizing to the physical therapist its insertion to the team to
multidiscipline of the mental health.
KEY-WORDS: Depression. Quality of Life. Physical therapy.
INTRODUÇÃO
Atualmente o transtorno depressivo é reconhecido com um problema de saúde
pública, devido a sua alta prevalência e impacto psicossocial. A Organização
Mundial de Saúde (OMS) estima que a depressão é atualmente a doença
psiquiátrica mais diagnosticada: ocupa o quarto lugar entre os maiores
problemas de saúde do Ocidente e é a segunda causa de invalidez (1).
Tem-se comprovado que os transtornos mentais ocasionam: redução da
produtividade, conflitos inter-pessoais, aumento do custo de vida (pela
freqüência com que se associam a traumas) – tendo assim grande importância
social e econômica. Estima-se que um trabalhador perde, em média, um ano e
meio de trabalho durante a vida, devido a doenças provocadas pelo estresse
(2).
Segundo a OMS, assinala O’ Sullivan (3) a condição de saúde não se restringe à
ausência de doença e enfermidades, mas compreende um completo bem-estar
físico, mental e social. Logo, temos outro conceito muito importante que deve
ser levado em conta que é qualidade de vida.
Qualidade de vida, segundo o Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial
de Saúde (4), foi definido como “a percepção do indivíduo de sua posição na
vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em
relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.
A depressão definida como um estado emocional caracterizado por grande
tristeza, sentimento de desvalia e culpa, abstenção de contato com outras
pessoas e perda de sono, apetite, desejo sexual, interesse e prazer pelas
atividades habituais pode ser considerada altamente incapacitante interferindo
ativamente na mesma (1, 5,6).
A ligação entre mente e corpo encontrou grande reforço na pesquisa neurológica
por meio dos trabalhos de vários cientistas, entre eles Antônio Damásio, para
quem o organismo tem algumas razões que a razão tem que utilizar. Concluindo
que existimos e depois pensamos e só pensamos na medida em que existimos,
visto o pensamento ser, na verdade causado por estruturas do ser (7).
Sousa (8) cita que a postura ereta proporciona uma sensação de bem-estar. A
mesma alegria que se sente quando se tem uma determinada destreza, sente-se
também quando, conscientemente, se em pé, de maneira adequada. Saber que se
sabe ficar de pé de maneira correta que se pode e se está em pé corretamente,
dá um sentimento de autoconfiança e equilíbrio.
O que nos conduz a curiosas conclusões como: a postura afeta seu pensamento,
pois esta propicia o melhor estado de espírito. Sendo o contrário também
verdadeiro, já que, de modo geral na depressão encontram-se presentes queixas
somáticas devido a um mecanismo de defesa denominado deslocamento, ou seja,
somatização, onde o cérebro desloca o que é insuportável do ponto de vista
psíquico para o corpo (2,9). Daí a possibilidade de se utilizar procedimentos
fisioterapêuticos para promover transformações de ordem psíquica.
Os transtornos psicológicos podem assumir, também, forma física pela
conversão, em que os sintomas são demonstrados em situações estressantes
permitindo ao indivíduo evitar alguma atividade ou responsabilidade ou receber
atenção pela qual anseia. O termo conversão, deriva do trabalho de Freud,
definindo-o como a energia de um instinto reprimido que seria desviada para
canais sensório-motores, causando bloqueios funcionais, surgindo os sintomas
físicos (5). Wilhelm Reich (2,10), também, compartilha dessa idéia e
desenvolveu uma teoria de que as pessoas desenvolvem couraças musculares que
impedem o fluxo natural de energia fluir por todo o corpo, surgindo a
bioenergética. Wilhelm Reich (1979) considerava que a experimentação plena dos
sentimentos positivos somente ocorreria se o indivíduo lidasse, inicialmente,
com suas emoções negativas (14) desenvolvendo a teoria das couraças musculares
que impedem o fluxo natural de energia por todo o corpo. Através de tensões
musculares, o indivíduo consegue alterar sua respiração fazendo com que não
experimente suas emoções em seu ventre, diminuindo sua “dor”, sua rejeição e
frustração (15, 16).
Há, ainda, explicações biológicas demonstrando a reação do corpo ao estresse
psicológico provocado pela depressão, dentre as principais reações biológicas
envolvem ativação do sistema nervoso simpático e do eixo
hipotálamo-pituitária-suprarrenal. Onde as catecolaminas são liberadas dos
nervos e da medula suprarrenal ocasionando secreção de corticotropina pela
pituitária. A corticotropina causa em seguida liberação de cortisol pelo
córtex das glândulas suprarenais (5).
O cortisol em excesso leva a deficiência do sistema imunológico,
principalmente na diminuição de imununoglobina A, que servem como primeira
linha de defesa. Além, de reduzir a função de receptores de serotonina, o
hormônio da alegria, e debilitar a função de receptores noradrernérgicos,
causando distúrbios cognitivos e emocionais (5,11,12). Logo, percebemos uma
íntima relação entre sistema nervoso central e autônomo ao somático, ou seja,
entre mente e corpo causando desordens mútuas. Entre outras alterações como
aumento das glândulas adrenais, úlceras hemorrágicas, lesões no hipocampo
cerebral e anormalidades em outras regiões cerebrais, demonstrados em estudos
realizados por Hans Seyle, que comprovadamente se relacionam à depressão (12,
17).
Em todo processo de estresse temos sempre, o sistema límbico elaborando a
vivência emocional, o córtex elaborando a linguagem intelectual, e ambos os
processos sendo transformados em uma linguagem orgânica. Da mesma forma
Phillips (1987), pesquisando o comportamento de evitação de dor e os processos
cognitivos envolvidos nesse comportamento, como expectativas sobre o limiar de
dor e lembranças de experiências dolorosas passadas, constatou a influência
desses fatores na postura dos pacientes. Influência esta, também, percebida
por Rosa et al, que em seu trabalho propôs a relação entre estresse e o
equilíbrio, por o primeiro diminuir a capacidade perceptiva devido à redução
da concentração (18, 19).
Para Godelieve Denys-Struyf (G.D.S), fáscia é um elemento de ligação entre o
superficial e o mais profundo, entre os músculos contidos em suas aponevroses,
entre os músculos e o esqueleto, entre os músculos e as vísceras e entre estas
e o esqueleto (20).
A fáscia não é apenas um tecido mecânico de ligação, mas também, um imenso
receptor sensitivo porque encerra milhares de tenso-receptores (órgão de golgi
e fibras Ib) que reagem à mínima tensão e permitem a propriocepção. Além de
sua mobilidade, seus deslizamentos contínuos sobre os tecidos vizinhos, ser o
motor para a circulação lacunar, auxiliando o retorno venoso (13).
Sabe-se também que quando o músculo é sobrecarregado por alguma razão, a
fáscia absorve parte dessa carga, pois é submetida a um esforço contínuo e
excessivo, tornando-se mais densa, mais curta e perdendo elasticidade e
plasticidade, e assim o corpo muda, gradativamente, sua estrutura (21).
A técnica da pompage é realizada em três tempos. O primeiro tempo é o "tensionamento"
do segmento. O terapeuta alonga lenta, regular e progressivamente a fáscia até
o limite da elasticidade fisiológica. O segundo tempo é o tempo de "manutenção
da tensão", em que o terapeuuta retém a fáscia no limite do seu alongamento
fisiológico por 15 a 20 segundos. Sendo o terceiro tempo, o "tempo de retorno"
em que se permite a fáscia deslizar lentamente em direção ao seu ponto de
origem. Porém, para conseguir o alongamento do tecido fascial o tempo de
retorno se faz com apenas 2/3 do tempo de tensionamento, feito inicialmente, e
prossegue todas as fases novamente por no mínimo 10 repetições. Tomando sempre
o cuidado para que o terapeuta não perca o contato com a pele, não ultrapasse
os limites fisiológicos do tecido e realize toda a manobra lenta e
progressivamente, acompanhada de um bom padrão da respiração (13).
A respiração, segundo G.D.S, é muito importante se desejamos obter um
relaxamento das tensões, privilegiando o tempo expiratório, pois este favorece
o aumento da concentração de gás carbônico no sangue, que diminuirá o tônus
muscular. Além, do diafragma ser o centro acumulador de tensão do corpo e
estar ligado a todas as cadeias fasciais, promovendo rotação externa nas
cinturas durante a inspiração e relaxamento ou até mesmo rotação interna dos
membros na expiração forçada, favorecendo o alongamento da fáscia durante a
pompage. (20)
A pompage é uma técnica de terapia manual, que implica, portanto, em tocar o
paciente, advinda da osteopatia, agindo diretamente sobre o tecido conjuntivo
(fáscia) produzindo benefícios à circulação, musculatura e articulação, além,
do efeito calmante (13). Podendo ser aplicada em pacientes depressivos com
objetivo de ampliar a percepção de si mesmo, aumentar a afetividade, promover
a melhora da circulação e o relaxamento muscular a fim de auxiliar a produção
da emoção do indivíduo e, consequentemente, melhorar sua qualidade de vida.
As descobertas científicas no campo dos neurotransmissores cerebrais têm
ampliado e desenvolvido o uso de medicamentos antidepressivos. Entretanto,
Thase e Ninam (2002) enfatizam que apesar da grande amplitude das substâncias
antidepressivas disponíveis no mercado, nenhuma delas têm eficácia ideal, até
mesmo por causa dos diversos efeitos colaterais que produzem (1, 22).
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi aplicado em 10 indivíduos com diagnóstico de depressão, separados
em dois grupos iguais, denominados grupo C e grupo P; o primeiro, como grupo
controle, e o segundo como grupo experimental. E, aplicado questionários (SF-36
Healht Short-Form e Beck), além do instrumento cirtométrico e a entrevista
diária realizada pela pesquisadora, com o objetivo de constatar e discutir as
referências bibliográficas sobre a relação corpo-mente e suas implicações em
torno da depressão e, principalmente, avaliar a aplicação da pompage a fim de
melhorar a qualidade de vida dos mesmos.
Participaram do estudo os usuários do CAPS, sem distinção de sexo, na faixa
etária de 30 a 70 anos e que possuíam como diagnóstico, em seu prontuário, o
transtorno depressivo, excluindo aqueles que apresentavam como patologia
associada doenças incapacitantes ou invalidantes, como, por exemplo, Alzheimer
ou Parkinson. A pesquisadora em uma reunião inicial relatou todo o processo da
pesquisa, e após ter sanado todas as indagações, os mesmos assinaram um termo
de consentimento.
Os questionários foram aplicados em todos os indivíduos, antes e após o
término do trabalho prático, sendo analisados através do teste t de Student e
correlação de person para a obtenção dos resultados.
A fase de coleta de dados ocorreu durante os meses de março à maio de 2006.
RESULTADOS
O estudo foi realizado com dez (10) voluntários com idade média de 54 anos
(±9,99), divididos em dois grupos iguais em número, denominados grupo C
(controle) e grupo P (experimental), assim distribuídos: no grupo P temos 40%
(n=2) do sexo masculino e 60% (n=3) do sexo feminino, com idade média de 51,4
anos (± 7,70); no grupo C temos 100% (n=5) do sexo feminino, com idade média
de 55,6 anos (± 9,99). A Tabela I, mostra a caracterização dos grupos
estudados, no início do tratamento.
>> Tabela I. Caracterização dos grupos.
|
GRUPO P
(n=5) |
GRUPO C
(n=5) |
Idade** |
51,4 anos |
55,6 anos |
Sexo |
Fem |
60% (n=3) |
100% (n=5) |
|
Masc |
40% (n=2) |
0% |
Ativ. Prof. |
Sim |
20% (n=1) |
40% (n= 2) |
|
Não |
80% (n=4) |
60% (n=3) |
|
|
|
Ativ. Fis. |
Sim |
20% (n=1) |
80% (n=4) |
|
Não |
80% (n=4) |
20% (n=1) |
|
|
|
Tempo de tto |
|
|
Até 6 meses |
20% (n=1) |
0% |
6 meses a 1 ano |
20% (n=1) |
20% (n=1) |
+ de 1 ano |
60% (n=3) |
80% (n=4) |
|
|
|
Medicamento |
Sim |
80% (n=4) |
100% (n=5) |
|
Não |
20% (n=1)* |
0% |
|
|
|
Patologia associada |
|
|
Não |
N=2 |
N=3 |
Ortopédica |
N=2 |
N=0 |
Cardiovascular |
N=2 |
N=2 |
Respiratória |
N=2 |
N=0 |
|
|
|
BDI Inicial** |
19,2 |
23,6 |
*a paciente recusou tomar a medicação
receitada; ** mediana.
Apesar da amostra ser pequena (n = 10), comparamos a média dos valores obtidos
do questionário de Qualidade de vida Short Form (SF-36) no estudo com
pacientes depressivos com a média da população brasileira, citada em
literatura. Percebemos uma média significativamente (p< 0,05) baixa em seus
componentes físico e mental, como demonstra a tabela abaixo.
|
Pacientes Depressivos |
População Brasileira* |
t |
p |
Componente
Físico |
207,30 |
318 |
-4,698 |
0,001 |
Componente
Mental |
178,15 |
313 |
-2,791 |
0,021 |
|
CF |
AF |
Dor |
EGS |
Vit |
AS |
AE |
SM |
Depressão
|
61,50 |
27,50 |
62,20 |
56,10 |
42,00 |
53,75 |
30,00 |
52,40 |
QV em Pop Geral
Brasil*
|
83,0 |
87,0 |
73,0 |
75,0 |
70,0 |
84,0 |
86,0 |
73,0 |
* FONTE: CICONELLI, 1999.
Na tabela III, observamos os resultados obtidos com o instrumento SF-36,
comparando o início e o fim do trabalho prático do grupo P, observamos aumento
das medianas em todos os domínios, além dos componentes físico e mental,
caracterizando uma melhora da qualidade de vida do grupo (Graf. 1). Porém, não
obtemos resultados estatisticamente significantes (p > 0,05) em seis (6) dos
oito domínios do questionário. Havendo melhora da mediana nos domínios, com
significância estatística (p < 0,05), referentes à dor e saúde mental, assim
como os componentes físico e mental.
Tabela III. Domínios do SF-36 e componentes físico e mental do grupo P.
DOMÍNIOS |
MÉDIA |
DP |
r |
t |
p |
CF
|
Inicial |
63,00 |
17,89 |
0,970 |
-1,500 |
0,208 |
Final |
66,00 |
18,51 |
|
AF
|
Inicial |
5,00 |
11,18 |
-0,514 |
-1,414 |
0,230 |
Final |
30,00 |
32,60 |
|
DOR
|
Inicial |
39,60 |
10,88 |
0,747 |
-4,720 |
0,009 |
Final |
75,00 |
23,26 |
|
EGS
|
Inicial |
48,60 |
20,56 |
0,388 |
-0,574
|
0,597 |
Final |
53,60 |
12,46 |
|
VIT
|
Inicial |
34,00 |
25,10 |
0,135 |
-1,857 |
0,137 |
Final |
61,00 |
24,34 |
|
AS
|
Inicial |
45,00 |
14,25 |
0,422 |
-1,238 |
0,284
|
Final |
60,00 |
29,84 |
|
AE
|
Inicial |
13,33 |
29,81 |
0,514 |
-2,746 |
0,052 |
Final |
60,00 |
43,46 |
|
SM
|
Inicial |
42,40 |
17,11 |
0,426 |
-2,889
|
0,045
|
Final |
72,00 |
24,17 |
|
CPF
|
Inicial |
156,20 |
44,84 |
0,707 |
-2,923
|
0,043
|
Final |
224,60 |
73,31 |
|
CPM |
Inicial |
134,76 |
46,56 |
0,597 |
-2,871 |
0,045 |
Final |
238,86 |
101,73 |
|
Teste t Student para dados pareados.
Gráfico 1
Na Tabela IV, demonstramos o resultado do grupo C com o instrumento SF-36. E,
observamos diminuição das medianas em seis (6) domínios do questionário (AF,
DOR, EGS, AS, AE e SM), além dos componentes físico e mental, indicando uma
queda da qualidade de vida do grupo (Graf. 2), pois esta não foi
estatisticamente significante (p >0,05).
Tabela IV. Domínios do SF-36 e componentes físico e mental do grupo C.
DOMÍNIOS |
MÉDIA |
DP |
r |
t |
p |
CF |
Inicial |
60,00 |
22,64 |
0,821 |
-0,343 |
0,749 |
Final |
62,00 |
20,19 |
|
AF |
Inicial |
50,00 |
25,00 |
0,366 |
0,232 |
0,828 |
Final |
45,00 |
51,23 |
|
DOR |
Inicial |
84,80 |
20,81 |
-0,188 |
1,456
|
0,219
|
Final |
55,60 |
36,01 |
|
EGS |
Inicial |
63,60 |
28,16 |
0,505 |
0,718 |
0,513 |
Final |
55,20 |
23,91 |
|
VIT |
Inicial |
50,00 |
16,58 |
-0,162 |
-0,364
|
0,734 |
Final |
56,00 |
30,29 |
|
AS |
Inicial |
62,50 |
41,46 |
0,976 |
1,500 |
0,208 |
Final |
55,00 |
33,77 |
|
AE |
Inicial |
46,67 |
38,01 |
0,235 |
0,885 |
0,426 |
Final |
26,67 |
43,46 |
|
SM |
Inicial |
62,40 |
25,86 |
0,846 |
0,459 |
0,670 |
Final |
59,20 |
29,18 |
|
CP F
|
Inicial |
258,40 |
62,90 |
0,754 |
1,379 |
0,240 |
Final |
217,80 |
98,69 |
|
CP M |
Inicial |
221,56 |
107,72 |
0,728 |
0,705 |
0,519 |
Final |
196,6 |
116,03 |
|
Teste t Student para dados pareados.
Graf. 2
Através da escala de Beck (BDI) podemos constatar, na tabela V, queda na
mediana do grupo P, comparando o momento inicial e momento final do estudo,
enquanto o grupo C obteve aumento desta mediana, ambas não foram
significativas estatisticamente (p > 0,05).
Tabela V. Médias do BDI.
|
BDI
INICIAL |
DP |
BDI
FINAL |
DP |
r |
t |
p |
GRUPO P |
19,2 |
7,59 |
13 |
6,12 |
0,618 |
2,258 |
0,087 |
GRUPO C |
23,6 |
20,10 |
24 |
22,03 |
0,997 |
-0,343 |
0,749 |
Teste t Student para dados pareados; r = pearson.
No grupo P, foi colhido os dados cirtométricos, no momento inicial e final do
trabalho prático, e obtivemos diferenças nas medianas quanto a expansibilidade
torácica comparando o início e fim do tratamento (Tabela VI), com
significância estatística ( p < 0,05).
Tabela VI. Relação das médias cirtométricas no início e fim do tratamento.
|
axilar |
XIFOIDEA |
BASILAR |
Insp* |
Inicial |
102,1 |
82,75 |
98,2 |
|
Final |
102,3 |
95,5 |
97,3 |
|
|
|
|
Exp.* |
Inicial |
98,5 |
94,9 |
97,4 |
|
Final |
100 |
93 |
95,3 |
|
|
|
|
r |
INSP |
0,999 |
0,983 |
0,984 |
|
EXP |
0,987 |
0,981 |
0,980 |
p |
INSP |
0,001 |
0,003 |
0,002 |
|
EXP |
0,002 |
0,003 |
0,004 |
r = pearson, p = significância do teste t student;
* mediana.
Na Tabela VII, observamos a relação inspiração – expiração, a fim de
determinar o padrão respiratório do grupo P. Observamos que o padrão
respiratório predominante, no momento inicial, era apical, devido a maior
expansibilidade na região axilar em detrimento das demais. Enquanto, no final
do tratamento, houve um início de mudança do padrão respiratório, obtendo
maior expansibilidade nas regiões xifoidea e basilar, caracterizando um padrão
respiratório misto (Graf. 3).
TabelaVII. Médias cirtométricas
Inicial final
Referência Cirtométricas |
Insp. |
Exp. |
Insp-exp |
Insp. |
Exp. |
Insp-exp |
AXILAR |
102,1 |
98,5 |
3,6 |
102,3 |
100 |
2,3 |
XIFOIDEA |
82,75 |
94,9 |
0,9 |
95,5 |
93 |
2,4 |
BASILAR |
98,2 |
97,4 |
0,8 |
97,3 |
95,3 |
2 |
Graf. 3
DISCUSSÃO
O estudo demonstrou que a qualidade de vida de indivíduos apresentando
Transtorno Depressivo é muito inferior, comparado a da população brasileira.
Através do Questionário SF-36, que divide-se em dois componentes – físico e
mental, percebemos diminuição da média em ambos, principalmente no componente
mental. Observando, também, grande discrepância dos domínios relacionados ao
aspecto físico e emocional, os quais determinam a influência da falta de saúde
e problemas emocionais no trabalho e outras atividades diárias.
Correlacionando-se com a falta de produtividade e ausências nas atividades
profissionais, sendo uma das maiores causas de invalidez (1, 2).
Quanto às hipóteses que poderiam justificar o baixo nível de qualidade de vida
no grupo estudado, a saúde mental merece atenção especial. Neste estudo, a
questão da “saúde mental” foi abordada de duas formas: inicialmente pela
escala de Beck, onde a média foi 21,3 (± 3,25), acusando depressão moderada a
grave (23). Outra maneira foi através do SF-36, onde no decorrer da aplicação
do questionário as questões que determinam o componente “saúde mental” não
foram abordadas de forma objetiva, pois relacionava os sintomas da depressão
com o fator “tempo”. Fator este, comprometido nesses indivíduos devido à
inatividade e perda de interesse pelas coisas, além das repercussões
neuropsicológicas sobre a memória (17). Demonstrando uma média inferior
comparada a da população brasileira, porém não foi significativo
estatisticamente (p > 0,05).
Um aspecto interessante notado no estudo foi que o componente físico e o
componente mental, estão significativamente correlacionados (pearson = 0,815)
confirmando o que a literatura tem buscado evidenciar com a psicossomática,
entre outras ciências como, a psiconeuroendocrinologia.
Contudo, o objetivo principal do estudo foi analisar a influência da terapia
manual, mais especificadamente a pompage, por trabalhar a fáscia, cujo tecido
pode ser considerado como a estrutura mais global do corpo, sobre a qualidade
de vida dos pacientes depressivos. Para isso, analisamos os domínios do SF-36,
antes e após a aplicação da pompage, observando aumento de todas as médias no
final do estudo, caracterizando uma melhora significativa na qualidade de vida
dos pacientes. Em contraste com o grupo controle, que houve diminuição das
médias na maioria dos domínios do SF-36 indicando queda na qualidade de vida
dos indivíduos deste. Porém, não pode-se afirmar tal, por não ter variância
significativa.
No grupo experimental, tivemos dois domínios com variância significativa (p <
0,05) através do tratamento, e são eles: dor e saúde mental.
O aspecto da dor é um fenômeno multidimensional que permeia questões físicas,
emocionais, culturais e ambientais, e de acordo com os dados colhidos na
amostra está intimamente relacionado à saúde mental (pearson = 0,788).
Confirmando os relatos de Freud, observados em seus trabalhos, sobre o
fenômeno da conversão e somatização, onde o homem é capaz de levar ao corpo
todo o seu sofrimento psíquico (2, 5, 24, 25). A dor pode ser também devido a
fatores físicos, todavia a correlação da capacidade funcional e dor é bem
menos significativa (pearson = 0,521) em nossa amostra estudada, além de não
apresentar patologias associadas relevantes à associação das mesmas com o
domínio “dor”.
A indicação da melhora da dor com o tratamento da pompage, atende as nossas
expectativas quanto a provável utilização de procedimentos fisioterapêuticos,
lembrando que a fisioterapia trabalha essencialmente o aparelho
músculo-esquelético, para a melhora de queixas somáticas, já observada a
tempos, a relação entre o corpo e mente, através dos trabalhos de Freud,
Reich, Lowen, Keleman, entre outros.
Esta relação entre corpo e mente, tão comentada, mas, ainda, desacreditada por
muitos, foi aqui reforçada em nossos estudos com a melhora da saúde mental
geral através de um trabalho corporal, proporcionando, segundo relatos do
grupo experimental, “clareza mental”; representadas pela diminuição da
ansiedade, melhora da percepção corporal e temporal, controle emocional e
disposição.
O fato do resultado da escala de Beck não ser tão significativo (p > 0,05),
apesar de termos conseguido uma queda na média do score, quanto o instrumento
SF-36 nos surpreende, mas não nos desanima. Pois uma série de fatores podem
estar relacionados com tal resultado, como a dificuldade com a assiduidade
deles em relação ao tratamento, problemas emocionais com familiares, faltas
por motivo de saúde, além de serem em sua maioria casos crônicos para um curto
período de tratamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar das dificuldades encontradas na pesquisa como a escassez de pesquisas
científicas com rigor metodológico para a comprovação da relação corpo -mente,
ou seja, na influência da intervenção corporal sobre os aspectos mentais do
homem; além da dificuldade encontrada para adquirir uma amostra maior e melhor
controlada; como, também, aplicar instrumentos avaliativos de maneira
objetiva, devido o quadro clinico do transtorno depressivo associado ao medo
de discriminação e negação da patologia. Os resultados foram satisfatórios com
relação ao emprego da pompage com o objetivo de melhorar a qualidade de vida
daqueles que sofrem com a depressão.
Atualmente, a saúde mental vem se ampliando em conhecimento e serviço à
comunidade, e o exemplo disso são as unidades de saúde especializadas,
denominadas CAPS, onde oferece toda a assistência médica e psicológica aos
usuários, como também aos familiares.
Dentro destas unidades e em qualquer outro serviço de saúde mental, não
encontramos o profissional de Fisioterapia como membro da equipe
multidisciplinar. O resultado deste trabalho vem discutir sobre a relação do
físico e o emocional interferindo na saúde do indivíduo, sendo esta bem aceita
pela OMS, possibilitando a inserção do fisioterapeuta nesta especialidade da
saúde, desde que deixemos de lado o empirismo para, então, comprovarmos por
meio de pesquisas científicas.
Verifica-se, então, a necessidade de realização de maiores estudos a partir
deste trabalho com o objetivo de coletar maiores dados e traçar o perfil desta
população para que possamos avaliar e melhor traçar objetivos dentro da
conduta fisioterápica.
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